terça-feira, 31 de agosto de 2010

Manobras arriscadas esquentam campanha

Desculpem voltar novamente aqui, mas prometo que é a última vez que interrompo a minha “desincompatibilização”.


É que acho importante deixar aqui algumas colocações, pra gente refletir.


Os petistas estão desde ontem a tentar o impossível: tapar o sol com a peneira.


Saltam de jornal em jornal e de blog em blog, a levantar dúvidas acerca dos números do Ibope, que deram a Jatene uma vantagem de dez pontos sobre a minha xará, a governadora Ana Júlia Carepa.


O problema é que as atitudes dos companheiros petistas acabam por desmentir o discurso.


Os programas da Acelera Pará sofreram uma clara mudança de tom: Ana apareceu mais humilde e as críticas a Jatene ficaram mais incisivas.


Ora, bater em adversário repentinamente – e não para demarcar território ou se defender de um ataque - indica claramente que se está a tentar fazê-lo cair.


Em outras palavras: que o incômodo provocado pelo adversário é tão grande, que vale até o risco de um ataque frontal.


Já a tentativa de mexer na imagem de candidato em plena campanha é ainda mais complicada: é manobra que só se justifica se o navio estiver, de fato, prestes a afundar.


Porque é como pegar um personagem e reescrevê-lo durante a encenação da peça: o distinto público nota – ah, se nota! E pode até vaiar...


E eu fico a pensar, cá com os meus botões: o que levaria os companheiros petistas a manobras tão arriscadas, se Ana e Jatene estivessem apenas “empatados”, como foi plantado em tantas notas pela blogosfera, e se inexistisse o risco de ele liquidar essa fatura ainda no primeiro turno?


O problema é que a pesquisa do Ibope não mostrou apenas Jatene dez pontos à frente de Ana.


Aliás, a maior dor de cabeça dos petistas não é nem mesmo a  possibilidade de Jatene se eleger já no primeiro turno.


A questão central é a pesquisa revelar a forte probabilidade de que nem Dilma Rousseff consiga salvar a companheira Ana Júlia, mesmo num eventual segundo turno.


Um fato que este blog, aliás, antecipou, a partir de um mero exercício de lógica.


Dilma sobe decididamente, mas não consegue arrastar Ana Júlia, que caiu já durante a campanha – uns dez pontos, entre a pesquisa do Ibope divulgada em junho e esta agora.


O fato de 40% dos eleitores de Jatene votarem em Dilma deixa isso patente: o paraense se define por Dilma, mas não quer Ana Júlia; quer Jatene.


E nem a tentativa de colar Ana em Dilma e Jatene em Serra, que vem sendo realizada desde os primeiros programas do PT, parece ter a capacidade de reverter esse quadro – taí esses 40% “dilmo-jatenistas” que não me deixam mentir...


Por isso a mudança da atitude petista, a esquentar a campanha, apesar do discurso de “tranqüilidade”, que nada mais é, penso eu, do que a tentativa de segurar os partidos da aliança, para evitar um “salve-se quem puder”.


Sinal de que razão tinha mesmo um certo filósofo: a prática é, de fato, o esmagador demonstrativo da verdade.


FUUUUIIIIIII!!!!!!

domingo, 29 de agosto de 2010

Jatene pode ganhar já no primeiro turno

Acabei me esquecendo de uma coisa muito importante na postagem anterior.


Na última pesquisa registrada do Ibope, no final de junho, se não estou enganada, Jatene e Ana estavam tecnicamente empatados, com apenas um ponto de diferença.


Quer dizer: se os próprios petistas admitem que Ana está “atrás do Jatene”, lutando pra ao menos "empatar" (leia a postagem abaixo!), isso quer dizer que ela caiu já durante a campanha – e apesar da subida da Dilma!


Ou seja: o que deve estar atormentando o PT é que nem a Dilma está conseguindo fazer a Ana subir. E o Jatene deve estar abrindo uma diferença que nunca abriu, porque, na maioria das pesquisas, registradas ou de circulação restrita, eles estavam empatados. Daí a tentativa do PT de impedir a publicação da nova pesquisa do Ibope!


Em outras palavras: não dá pra descartar a possibilidade de vitória do Jatene já no primeiro turno, tendo em vista que ainda estamos a um mês das eleições e ele parece já estar fazendo a minha xará comer poeira - apesar da Dilma.


E, novamente: muito obrigada aos companheiros petistas, por tão excelente notícia.


FUUUUIIIIII!!!!!

Petistas admitem: Jatene já está no segundo turno

Em primeiro lugar, quero pedir perdão aos leitores por voltar novamente a este blog, antes do final da minha desincompatibilização.

Mas é que os companheiros petistas me deixaram tão feliz, que eu não consegui resistir a vir aqui hoje.


E o que foi que os companheiros petistas fizeram pra me deixar tão feliz?

Simples: eles admitiram que o Jatene já está no segundo turno. E que a minha xará, que está atrás do Jatene, apenas luta para chegar ao segundo turno não tão atrás assim.

E quando foi que os petistas fizeram isso?

Quando começaram a plantar na blogosfera pesquisas não registradas, que seriam pra “consumo interno”, e nas quais, segundo eles, a minha xará teria “conseguido empatar” com o Jatene.

E eu fiquei a pensar, cá com os meus botões, com essa minha experiência de sei-lá-quantas campanhas políticas: quem comemora empate, admite que está atrás – e bem atrás!

Até porque pra adversário admitir empate, caríssimos leitores, é porque a coisa está tão feia, que eles precisam fazer com que as pessoas acreditem, ao menos, na possibilidade de um empate.

E eu até gostaria de agradecer ao espírito democrático dos companheiros petistas, que os leva a dividir conosco tais pesquisas...

Sempre disse aqui – e isso é público – que achava que esta eleição poderia ser liquidada no primeiro turno. Os próprios petistas, aliás, sempre contaram com isso – e propagandearam isso!

Ora, a minha xará tem as máquinas estadual e federal nas mãos, além de umas 100 prefeituras, inclusive a da capital.

Tem ao seu lado o líder mais carismático da história deste país: o grande Luís Inácio Lula da Silva.

E nós, tucanos, nem temos máquinas, nem temos tanto dinheiro assim: até o nosso orçamento de campanha é quatro vezes menor que o do PT.

E, no entanto, os próprios petistas já admitem que haverá, sim, segundo turno. E que o Jatene estará no segundo turno. E que a minha xará tem é de suar a camisa; tem de rezar ajoelhada pra “São Lula”, pra não chegar ao segundo turno, vergonhosamente, muito atrás do Jatene.

Confesso que isso chega até a emocionar.

Porque demonstra que quem está a carregar o Jatene de volta ao poder é o nosso povo, é a sociedade paraense.

Contra todas as máquinas. Contra toda a propaganda. Contra milhões e milhões de reais. E até mesmo contra algumas das nossas maiores lideranças políticas.

E eu penso - e essa é a minha opinião – que o Jatene tem mais é de agradecer a esse extraordinário povo do Pará. A esse povo cabano, que não se rende e nem se vende.

Um povo tão astuto, tão inteligente, tão sábio, que não se deixa enganar por qualquer acarajé.

Um povo que vai mais é mostrar pra essa baianada o valor de um tacacá.

Já estamos no segundo turno. Nós, os tucanos, com essa nossa campanha de pé de chinelo, contra as roupas bordadas a ouro, do pessoal do lado de lá.

Sem dinheiro. Sem máquina. Sem propaganda. Sem o feitiço de grandes lideranças nacionais. Apenas e tão somente com o braço forte da dona Maria e do seu José.

Já garantimos o segundo turno – e segundo turno é outra eleição. Quem não acreditava que podemos chegar lá, vai começar a acreditar. E quem estava com medo de nos apoiar, vai, sim, meter a cara pra nos apoiar.

Confesso que se não tivesse tanta coisa pra fazer, ia até encher a cara uns três dias seguidos... Até porque não é todos os dias que os adversários nos dão notícias tão boas – e de graça!

Aliás, se os companheiros petistas continuarem a divulgar tais pesquisas, vou acabar achando que a gente pode até levar já no primeiro turno.

E viva o tacacá!

E viva o povo do Pará!


FUUUUIIIIIII!!!!!!!



Pro povo do Pará!







PS: a "pesquisa" mais recente vazada pelo PT e que me levou a escrever esta postagem está aqui: http://ananindeuadebates.blogspot.com/2010/08/pesquisa-ana-e-jatene-empatados.html

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O jogo eleitoral e os jornalistas

I




Estou realmente muito cansada, quebrada, quase sem conseguir raciocinar direito.


É tanto número na minha frente que eu já começo até a ver alma penada aqui em casa...


Mas o bom humor e a empolgação política dos comentaristas deste blog me fizeram vir aqui hoje. Afinal, todos temos essa irresistível veia “urubusística-veropesística”...


Choveram comentários na postagem “O PT e o terrorismo de Estado”, boa parte a me cobrar um posicionamento em relação à “censura” do blog da Franssinete Florenzano.


E eu quis vir aqui, hoje, para liberar todos os comentários, embora que amplamente desfavoráveis a mim. É que tenho um enorme apreço pela crítica, que é responsável por alguns dos melhores avanços da gente, na nossa maneira de pensar o mundo.


Da mesma forma que só soube no domingo – que foi quando escrevi a postagem anterior - acerca da história da Rádio Tabajara, também só soube da história da Franssinete na noite de anteontem.


É que estou “sitiada” por enormes pilhas de papéis, o que torna até difícil acompanhar o noticiário.


Quero também esclarecer que as colocações que vou fazer são estritamente de minha responsabilidade.


Vou falar como cidadã, como jornalista, e não como integrante da campanha do Jatene.


Até porque o que eu vendo ao Jatene é apenas a minha força de trabalho – e no horário de expediente.



II

Na noite de anteontem, pouco depois de saber da história da Franssinete, soube também da decisão do Jatene de mandar retirar tal processo.


Considerei mais do que acertada essa decisão. Aliás, penso até que é lamentável que tudo isso tenha chegado a acontecer.


Vou repetir a vocês o que disse a uma pessoa que me perguntou, na noite de ontem, o que eu achava desse processo contra a Franssinete.


O problema é que o Jurídico – e isso acontece praticamente em toda campanha – se atém estritamente à questão legal.


Quer dizer: não tem o hábito de fazer ponderações políticas acerca dessa ou daquela medida. Age estritamente como técnico. Daí ter ajuizado esse processo, o que acabou até por surpreender boa parte das pessoas que trabalham na campanha do Jatene.


É claro que houve um erro aí – e tentar negar isso, é tentar tapar o sol com a peneira.


Houve um erro coletivo de comunicação; um erro de toda a cúpula e até da estrutura da campanha do Jatene.


Candidato é pra estar na rua, a pedir voto: não tem de se preocupar com esta ou aquela ação de campanha.


Quem tem de examinar tais atos é a coordenação. E a falha foi claramente de toda a coordenação, até por uma questão estrutural: a falta de um canal permanente de comunicação entre os diversos setores.


Penso, no entanto, que o importante é que se conseguiu detectar e corrigir tal erro – sem meias palavras, sem titubeios.


Corrigiu-se o erro até publicamente, com toda a sociedade a acompanhar e a debater a correção dele.


E isso é muito mais importante do que parece, já que o Jatene pretende voltar a governar o Pará. Quem almeja comandar o Estado tem de ser, antes de mais nada, transparente. Tem de saber conviver tranqüilamente com a crítica. Porque isso é fundamental pra unir, em vez de desagregar.


Penso que o mais sensato, em todo esse episódio, teria sido enviar um pedido de direito de resposta à Franssinete, já que a divulgação de pesquisa sem registro na Justiça Eleitoral é, sim, ilegal.


E aqui eu vou pedir que vocês esqueçam que trabalho na campanha do Jatene. Porque se o que eu falei acima é a minha opinião pessoal, muito mais o que vou dizer agora.



III

Nenhum cidadão está acima da Lei. A igualdade de todos nós perante a Lei é, aliás, condição basilar da Democracia.


E as regras do jogo eleitoral têm, sim, de ser respeitadas. Até porque não estão aí por acaso: estão aí para garantir a igualdade de condições entre os candidatos em disputa.


É nesse sentido que a legislação nos impõe limites.


E pouco importa se somos jornalistas, médicos, advogados, políticos. Pouco importa se temos um pequeno ou um grande veículo de comunicação, ou até um blog - eis que a blogosfera não é um “universo paralelo”, e nós, os blogueiros, não somos “extraterrestres”.


Se vocês lerem a minha postagem anterior, vão perceber que, em momento algum, critiquei a Frente Acelera Pará por recorrer à Justiça contra a Rádio Tabajara.


Embora também aí eu considere que o mais lúcido, teria sido encaminhar à emissora um pedido de direito de resposta.


E nesse ponto os episódios que envolveram a Rádio Tabajara e o blog da Franssinete como que “se tocam”, uma vez que, em ambos os casos, lançou-se mão de um recurso extremo, antes de esgotar as possibilidades de negociação.


E essa é uma coisa muito importante, que todos nós temos de entender.


É claro que é sempre mais sensato, e até civilizado, tentar, primeiramente, negociar.


Mas não há rigorosamente nada de antidemocrático ou de “censura” no fato de alguma coligação – Acelera Pará, Juntos com o Povo, ou o raio que o parta – recorrer ao Judiciário para obrigar ao cumprimento da Legislação.


Não há no recurso ao Judiciário, para conter eventuais abusos de médicos, políticos, advogados, jornalistas, nem sombra de agressão à Democracia e à liberdade de expressão.


É um direito de todo e qualquer cidadão exigir o cumprimento das regras do jogo eleitoral. Porque é do interesse da coletividade, é do interesse de duzentos milhões de brasileiros, que esse jogo seja verdadeiramente justo.


Confesso que não ouvi os programas do Mendes e do Sidou, que foram objeto de reclamação da Acelera Pará. Daí que não posso achar ou deixar de achar que extrapolaram os limites da Lei Eleitoral.


Mas uma coisa é certa: tanto a Acelera Pará, quanto a Juntos com o Povo – e qualquer outra coligação – têm, sim, o direito democrático de recorrer à Justiça, sempre que um veículo de comunicação, um blog ou qualquer cidadão descumprir a Lei Eleitoral.


Não dá para ficar nessa hipocrisia de ficar dizendo que todo processo movido contra um jornalista é um atentado à liberdade de expressão. Não existe essa “metonímia” entre o jornalista e a informação.


Jornalista nem é anjo, nem está acima da Lei: não pode, simplesmente, “dar carteirada” na Legislação. É claro que existe muito de covardia nessa história de processar o jornalista – e não o jornalão. Mas o jornalista tem, sim, de se submeter às regras do jogo eleitoral.


Mas, atenção: a Legislação Eleitoral também não é “uma blindagem” à crítica democrática aos atos dos governantes.



IV

O que critiquei na Acelera Pará não foi, portanto, o fato de ela ter recorrido à Justiça Eleitoral contra a Rádio Tabajara – e isso está claríssimo na minha postagem anterior.


O que disse – e reafirmo – é que o fechamento da Rádio Tabajara foi um atentado terrorista de Estado contra a liberdade de expressão.


Se a Frente Acelera Pará se sentiu “ofendida” por afirmações dos jornalistas Carlos Mendes e Francisco Sidou, que enviasse um pedido de direito de resposta ou até ingressasse na Justiça Eleitoral.


Mas fechar a rádio é que não pode – porque aí deixa de ser Democracia e passa a ser aparelhamento do Estado, para intimidar eventuais adversários.


E eu tenho certeza de que há muitos companheiros petistas, muitos deles com uma extraordinária história de luta em defesa da Democracia, que também não concordam com esse tipo de coisa.


Assumo o risco do que estou a dizer com a tranqüilidade de quem sabe que está a defender um bem preciosíssimo para todos nós e para as futuras gerações. Um bem que, aliás, possibilita toda essa discussão que estamos a ter.


A forma como a Acelera Pará e o PT agiram nesse episódio é simplesmente indefensável.


E não me venham dizer, candidamente, que a Rádio Tabajara era pirata, funcionava irregularmente. Porque se é para fechar todas as emissoras que funcionam irregularmente, quantas é que vão sobrar no estado do Pará, heim, companheiros?


Por fim, espero apenas que vocês me permitam continuar com a minha “desincompatibilização” deste blog.


Não me parece que seja lá muito ético estar aqui a escrever todas essas coisas, já que estou a trabalhar na campanha de um candidato.


E fiquem certos de que não precisa ninguém me apontar o dedão acusador: eu me aponto, em primeiro lugar, o dedão acusador.


Por isso, por favor, me errem até novembro.



FUUUUUIIIIIII!!!!!!!


Pra vocês!



domingo, 22 de agosto de 2010

O PT e o terrorismo de Estado

Burrice, aparelhamento do Estado, violento atentado à Democracia.

São essas as características que saltam aos olhos, nesse triste episódio do fechamento da Rádio Tabajara.

Como vocês todos sabem, estou trabalhando na campanha de Simão Jatene ao Governo do Estado.

Por isso, me “desincompatibilizei” deste blog. Em respeito a vocês, em respeito às regras do jogo democrático. Em respeito até a mim mesma.

Mas o fechamento da Rádio Tabajara é de uma violência tamanha, que não vejo como não me manifestar.

Até porque este espaço é meu – e não de qualquer partido ou candidato. E a minha convicção é de que a Democracia é maior – infinitamente maior – do que qualquer um de nós. Ela é um bem inestimável que deixaremos aos nossos filhos e netos. Daí que não podemos titubear na defesa dela.

A Democracia sangra no estado do Pará.

Não, não é simplesmente o Carlos Mendes, o Francisco Sidou ou eu ou você: quem sangra é a Democracia.

O que aconteceu com a Rádio Tabajara foi, sim, censura. A mesma censura imoral, ilegal, opressiva e vagabunda que afligiu a todos nós, durante a ditadura militar.

Porque pouco importa a convicção, a ideologia de quem realiza a censura: ela sempre será imoral, ilegal, opressiva e vagabunda.

Nunca imaginei ver os companheiros petistas – os companheiros petistas com a sua longa história de luta pela Democracia – baterem no fundo do poço no que diz respeito à liberdade de expressão.

É uma coisa que choca, dói. Porque não estamos a falar de cidadãos descomprometidos com o Brasil. Mas de companheiros que muitas vezes arriscaram a própria vida pela construção de um País mais justo e democrático.

Sempre disse neste blog, que nunca vi grande diferença entre o PT e o PSDB – ou entre o PSDB e o PT, como vocês preferirem.

No fundo, queremos a mesma coisa: um Brasil de 200 milhões de cidadãos.

Mas hoje eu vejo que há, sim, pelo menos uma diferença entre tucanos e petistas: nós, os tucanos, “padecemos” – se é que se pode chamar assim – de aversão profunda ao autoritarismo.

“Sofremos” de tolerância zero à intolerância.

Acreditamos sinceramente – e não apenas nos discursos de palanque – nos princípios e instituições democráticas.

E Democracia ou é para todos, ou não é para ninguém.

A Frente Acelera Pará, da minha xará, a governadora Ana Júlia Carepa, sentiu-se ofendida por comentários dos jornalistas Carlos Mendes e Francisco Sidou.

É um direito da Frente Acelera Pará se sentir ofendida. Assim como é um direito dela buscar os meios que a Democracia admite, para evitar ser novamente “ofendida”.

A Frente poderia, por exemplo, enviar um pedido de direito de resposta à Rádio Tabajara. Ou poderia mandar um assessor de imprensa à emissora, para dizer, em entrevista: “não, a coisa não foi assim. Vocês estão enganados”.

A Frente poderia até mesmo protocolar um pedido para que o TRE advertisse e multasse a Rádio Tabajara, se ela estivesse, de fato, a extrapolar os limites da legislação eleitoral. Eis que todos nós – jornalistas, médicos, advogados, políticos – temos, sim, de abaixar a cabeça diante das regras do jogo democrático.

O que não pode é fechar a rádio – porque aí a coisa toda se transforma em terrorismo de Estado.

Ora, a Frente Acelera Pará protocolou denúncia ao TRE contra a Rádio Tabajara. No dia seguinte, agentes da Polícia Federal e funcionários da Anatel fecharam a emissora.

Certamente que o PT tentará nos convencer de que tudo não passou de “mera coincidência”.

E nós poderíamos até conceder o benefício da dúvida aos companheiros petistas, se tal não equivalesse a acreditarmos em mula sem cabeça. Até porque é pública e notória essa mania petista de aparelhar o Estado; de sujeitar o Estado ao partido.

Não dá para rifarmos princípios por causa de uma campanha eleitoral – a Democracia vale muito mais do que isso!

Não dá para simplesmente usar a polícia, o aparato repressivo do Estado, contra a liberdade de expressão.

O que o PT suprimiu não foi simplesmente a Rádio Tabajara. O que o PT calou não foi simplesmente a voz do Carlos Mendes ou do Francisco Sidou.

O que o PT fez – por sua arrogância, por sua incapacidade de conviver com a crítica – foi espancar, pisotear a Democracia brasileira. A Democracia que custou até as vidas de milhares de companheiros.

O fechamento da Rádio Tabajara não é “uma coisa menor”: é um atentado terrorista de Estado contra a liberdade de expressão.

O Brasil e o Pará não merecem isso. O PT e os petistas não merecem isso.

O PT, com a sua bela história desde o nascedouro: a luta do movimento popular por Democracia e Justiça Social.

A luta pela liberdade de expressão; a luta contra o monopólio dos meios de comunicação; a luta para que veículos como a Rádio Tabajara pudessem, afinal, existir.

Minha xará e a sua DS perderam o rumo e a compostura. E se alguma vez tiveram compromisso com a Democracia, acabaram de rompê-lo.

Lamento que o PT e os companheiros petistas, com o seu silêncio obsequioso, acabem por referendar esse atentado terrorista contra a liberdade de expressão.

No caso do PT, fechar uma rádio por causa de crítica a esse ou aquele governante, a esse ou aquele candidato é rifar os próprios ideais.

E eu só lamento é ter chegado este dia em que sou obrigada a dizer: até que ponto pode ir o PT pela simples manutenção do poder.

 FUUUIIIIIIIII!!!!!!!



Pra gente nunca se esquecer de lembrar:







sexta-feira, 6 de agosto de 2010

domingo, 1 de agosto de 2010

O Peido

Era um desastre, um verdadeiro desastre.

Quase com certeza, macumba da ex-mulher.
_Bem que eu desconfiei quando aquela vaca começou a aparecer lá em casa, dizendo que a gente tinha de continuar amigos, por causa das crianças. E me trazia feijoada, torta de cebola, sopa de repolho. Ela deve ter colocado alguma coisa na comida, só pode!... E agora, meu Deus do céu?

Havia uma semana que Alberto sentia como se nuvens apocalípticas rondassem a sua vida

E o pior é que tudo começou de repente, como se resultasse, mesmo, de alguma maldição.

Foi assim: na Quarta-Feira de Cinzas, Alberto acordou com uma irresistível vontade de peidar.

Ainda na cama, preguiçosamente, começou a soltar uma saraivada de puns, alguns silenciosos, outros, estridentes, mas, invariavelmente mortais.

Correu para o banheiro e viu-se diante de uma curiosa sinfonia, que reverberava magnífica nos azulejos.

E o fato é que mesmo depois de defecar; já na cozinha, ao tomar café, e mais tarde, a caminho do trabalho, ainda continuou como que incorporado daquela insurreição intestina.

A cada quatro ou cinco passos, uma dezena de puns se libertava. De sorte que todas as pessoas que passavam, se defendiam com toda sorte de desaforos.

“Vai tratar da tua alma, que o corpo já está podre”, gritou um homem engravatado, tapando o nariz. “Peidão! Peidão!Peidão!”, gritaram uns moleques.

Já meio desnorteado, cometeu a temeridade de enfiar-se num ônibus lotado – pra quê!...Acabou expulso, aos gritos de “porco” e “vagabundo”.

Correu a uma farmácia, para comprar dimeticona. Mas até os bombeiros tiveram de ser chamados, devido aos gases tóxicos que enfumaçaram o local.

Uma velhinha asmática, quase a desmaiar de aflição, disse-lhe que comesse alimentos fibrosos, “para evacuar que nem gente”.

No supermercado, teve de ziguezaguear pelos corredores, para que as pessoas não o ligassem à nuvem malcheirosa que ia deixando para trás.

Depois de ser expulso de dois supermercados e de três táxis, conseguiu, finalmente, voltar para casa.

Comeu toda sorte de farelos e frutas e até tomou um vidro inteiro de laxante.

Suou na privada feito um condenado, quatro ou cinco vezes.

Mas pela manhã, ao chegar ao trabalho, a tormenta recomeçou. Primeiro de mansinho, silenciosamente. Depois, em sucessão “metralhística”.

Foi mandado embora, a bem do serviço público, acusado de provocar uma rebelião no posto de saúde sempre lotado em que trabalhava.

No dia seguinte, os jornais noticiaram que até o Exército teve de ser chamado para conter a multidão, e que Alberto seria, na verdade, integrante de uma facção terrorista, que resolvera protestar peidando, desatadamente, contra o sistema.

Cientistas políticos lembraram o papel do mau cheiro ao longo da História, e a sua “associação dominatória” aos trabalhadores.

Psicólogos sociais viram naquele comportamento incivilizado a tentativa inconsciente de sufocar pai e mãe.

O Congresso foi convocado às pressas, porque a prisão de Alberto, em superlotada delegacia, foi entendida como mal dissimulada pena de morte.

Emparedado pela opinião pública, por ONGs ambientalistas e até por sociedades de direitos humanos, o Governo mandou transportar Alberto para uma ilha deserta na Amazônia, o megalixão do mundo, enquanto construía, com dispensa de licitação, uma penitenciária superfaturada, dotada de avançados sistemas contra a propagação de odores.

Também mandou que Alberto fosse examinado por uma junta médica, mas ele teve de esperar uns dez anos até que os médicos aparecessem.

Quando os médicos enfim chegaram, vestidos com trajes contra contaminação biológica, Alberto estava descabelado, barba crescida, sujo, perebento, as roupas em farrapos, os dentes em petição de miséria, e o abdômen como um ventre gestante.

As palavras incompreensíveis eram intercaladas por grunhidos e rodopios. Os olhos vermelhos e esbugalhados eram como os de um profeta enlouquecido.

Teve de ser amarrado, para não morder e arranhar os médicos, que, no entanto, nada puderam fazer.

Pouco depois Alberto morria, em meio às dores de um pútrido parto anal.

Os doutores especularam, especularam, mas não conseguiram chegar a nenhuma conclusão acerca da origem daquela estranha doença.

De tudo ficou-lhes, porém, uma certeza: Alberto era, de fato, a cara do Brasil.


Belém, 1 de agosto de 2010.



Pra vocês!