quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O candidato da máquina sem candidato


Em todos estes anos de jornalismo há episódios que jamais esqueci.


Um foi a convenção estadual do PMDB, em 1998, quando Jader Barbalho anunciou a candidatura ao Governo do Estado.

Plenário lotado, ele disse uma coisa mais ou menos assim: que não saberia o que dizer se a sua decisão fosse diferente, tamanha a “eletricidade” que vinha de seus correligionários.

Como se sabe, Jader foi candidato contra a máquina e perdeu.

Depois, perdeu a Presidência do Senado, renunciou ao mandato e acabou até “preventivamente” preso e algemado, às vésperas das eleições de 2002.

Nos três episódios – a derrota eleitoral de 1998, a renúncia ao Senado e a prisão – muitos juraram que estava acabado.

Jader, no entanto, sobreviveu.

E, agora, se conseguir costurar a aliança que articula com o bloco PTB/PR, terá chances reais de retornar ao Governo do Estado.

Porque a máquina terá encontrado o seu candidato. E o candidato, a sua máquina.


Um balão e uma aposta


Nesta semana, o morubixaba peemedebista fez dois movimentos que só podem ser bem compreendidos em conjunto.


Primeiro, embaralhou as cartas, lançando o balão de uma possível candidatura ao Governo com o apoio do PT, a partir de pressões de Brasília e de uma insatisfação generalizada com a governadora Ana Júlia Carepa e a sua Democracia Socialista (DS).


Em tal “arquitetura”, os petistas se contentariam, apenas, com a vice e com uma vaga ao Senado e o resto do bolo iria para o blocão PTB/PR.


Não por acaso, o balão subiu ao céu no mesmo dia da reunião, em Brasília, entre Jader, o ministro Alexandre Padilha e os presidentes nacional e estadual do PT.

A proposta, na base do “se colar, colou”, não tem a mínima chance de prosperar.

Mas, funcionou como cortina de fumaça para reduzir a credibilidade do movimento do dia anterior, segunda-feira, este sim, importante: a proposta que fez ao prefeito de Belém, Duciomar Costa, do PTB.


Nela, Jader seria candidato ao Governo com o apoio do blocão PTB/PR. E Duciomar, candidato ao Senado com o apoio da poderosa máquina do PMDB, até agora uma faca no pescoço do alcaide.


A fatia do PR também seria considerável: o presidente do partido, Anivaldo Vale, levaria, sem o mínimo esforço, o comando da maior prefeitura do estado.


É um cenário preocupante para os adversários de Jader.


O PMDB possui cerca de 40 prefeituras; o blocão, 31 (o PTB tinha 15, mas, perdeu Tracateua).


Quer dizer: à partida, essa aliança teria quase metade das prefeituras paraenses, aí incluídos alguns dos principais colégios eleitorais do estado: Belém, Ananindeua, Marabá, Castanhal.


E onde se lê prefeituras, leia-se não apenas “eleitores”, mas, sobretudo, “máquina”, dinheiro, poder de barganha.


Com tal poder de fogo, uma aliança dessas teria, sim, possibilidade de atrair outras legendas.


Uma seria o DEM, com seus seis minutos de televisão.


Outra, talvez o PDT, que já caminha junto com o blocão e contabiliza nove prefeituras.


Tal aliança, possivelmente, não enfrentaria obstáculos a nível nacional: todos esses partidos, à exceção do DEM, integram a base de sustentação do presidente Luís Inácio Lula da Silva.


Na verdade, eles formariam um palanque fortíssimo para a eleição de Dilma Rousseff – coisa que a ministra não teria simplesmente como desprezar.

Nessa hipótese, tucanos e petistas acabariam isolados, cada um em seu próprio muro de lamentações.


O segundo turno, possivelmente, seria entre Jader e Ana Júlia, já que Simão Jatene dificilmente teria condições de competir com as máquinas do Governo e das prefeituras.


E, nessa polarização, para onde tenderiam os tucanos?


Um cenário propício



No meio político, há enorme descrença de que Jader tente voar em direção ao Governo do Estado (e o blog, aliás, comunga dessa opinião).

São muitos os obstáculos em seu caminho.

Os principais, as acusações de enriquecimento ilícito e o longo processo de satanização que sofreu.

Ao longo da campanha, teria de enfrentar, por exemplo, as imagens das algemas de 2002 e a comparação entre a casa onde morava, no início da carreira política, e as propriedades que hoje possui.

Sobrariam acusações de parte a parte e é bem provável que o cidadão paraense acabasse submetido a uma das campanhas eleitorais mais sórdidas de todos os tempos.

Mas não há como negar que o cenário é extremamente propício para a aliança proposta por Jader (desconsiderar isso é fazer como a criança que fecha os olhos para espantar o monstro do armário).

A rejeição de Ana Júlia, que até petistas admitem que é alta, e a pancadaria no PSDB abriram espaço para um terceiro nome – que pode nem ser exatamente um terceiro projeto ou uma novidade.

Todas as pesquisas apontam nessa direção.

E, enquanto isso, a expressiva máquina formada pelo PTB/PR tateia em busca de um candidato.


Em outras palavras: há um cavalo selado na praça, à espera de um cavaleiro.


Um olhar descrente


Entre os tucanos é grande a descrença em relação a uma aliança PMDB/PR/PTB.


“O Jader está jogando em todos os lados, como sempre fez. Joga com o Jatene, com o Duciomar, com a Ana. Virou a grande estrela das eleições” – diz um tucano de alta plumagem.


E acrescenta: “Se ele vai ser candidato, só o tempo dirá. Mas, por enquanto, é o jogo. E ninguém chega perto dele em maestria e competência de alimentar possibilidades ao Governo e ao Senado. Mesmo que não seja nada disso e fique como coadjuvante, ele terá, afinal, o papel de protagonista”.


A fonte admite que a Prefeitura de Belém daria a Jader “a capacidade financeira que qualquer campanha precisa”.


No entanto, observa: “Ele (Jader) precisa de uma garantia que mesmo o Duciomar não lhe dá. O Jarbas Passarinho, quando foi candidato ao Governo, em 1994, tinha mais de 100 prefeituras e perdeu as eleições. O mesmo aconteceu com o Almir, em relação à Ana”.


Por isso, não acredita que Jader seja candidato ao Governo – e nem mesmo ao Senado: “Para vir ao Senado, ele precisaria de um palanque forte - ou com a Ana, ou com o Jatene”.

E raciocina: “Ele não vai se indispor com o Governo Federal. Mas, com a Ana, fica difícil deslocar o Paulo Rocha (da pré-candidatura ao Senado) e o Jader não confia no PT. Mas, ele também não vai brigar com o povo – e, neste momento, apoiar a Ana Júlia é brigar com o povo. O Jader é profissional, tem pesquisa. E os números que estão na mão dele são muito ruins para a Ana”.


E quanto ao fato de Duciomar, que possuía uma rejeição bem mais alta que a da governadora, ter conseguido se reeleger?


“A administração municipal é diferente da estadual” – responde o tucano – “O prefeito cuida de questões menores (bueiro, calçada quebrada) e não de questões maiores, como a segurança. Um prefeito de capital ainda se valoriza em função do asfalto. E o que o Duciomar fez foi jogar asfalto na cidade e contar, desde cedo, com o Portal da Amazônia. Quer dizer: criou expectativa e realizou uma série de ações”.

E comenta: “A Ana, para chegar nisso, teria de ter capitaneado uma série de obras estruturantes – e grandes. Não é com um trapiche na ilha das onças que ela vai conseguir reverter isso; isso é pouco para voto. Ela não tem identidade. Ela precisaria já ter alguma coisa que virasse referência”.



Ceticismo também no PT


Uma liderança petista também não acredita na hipótese da aliança PMDB/PTB/PR.


“Acho que ele (Jader) não é candidato ao Governo. Ele está blefando. Qualquer pesquisa que fizer, ele aparece bem: além de o PMDB ser forte, ele é uma liderança forte. Mas, ele não agüenta a campanha, uma disputa acirrada. E a estratégia dele não é voltar a ser governador. O que ele quer é que o filho dele (Helder Barbalho, prefeito de Ananindeua) seja governador, em 2014”, diz-me a fonte.


E assinala: “Acho que a Ana se permitiu ficar totalmente dependente do PMDB para ganhar a eleição. O Jader percebeu isso e está fazendo jogo, para fechar só às vésperas da eleição”.


Na sua opinião, o que Jader quer, no final das contas, é que o governo “fique totalmente dependente dele”.


Diz que Jader nunca colocou na mesa, nem mesmo na reunião da última terça-feira, a proposta de o PT abrir mão da cabeça de chapa.


E salienta que não há hipótese de o partido abrir mão da cabeça em favor de Jader, coisa que, aliás, já disse, também, o presidente nacional da legenda, José Eduardo Dutra.


“Onde o PT tem governador, a cabeça é do PT”, ressalta. E observa: “Como o PT vai abrir mão de onde tem o governo? Nós temos os outros 22 estados para negociar com os aliados”.

Perguntei-lhe se acredita que Ana Júlia se reeleja.

A resposta da fonte: “Se o PMDB fizer aliança, elege fácil. Se não, a campanha é que vai definir. Vai ter, no mínimo, três candidatos. E aí, o que vai definir são as alianças no segundo turno”.


Outro petista tem mais ou menos a mesma avaliação.


“Ele vai empurrar isso com a barriga, porque o pessoal dele não quer apoiar a Ana e, se ele disser isso agora, haverá uma debandada geral. Ele só vai dizer isso em cima da hora, quando não der mais tempo de eles fazerem composição. Ele vai empurrar isso ao máximo, para lançar um ‘laranja’. Porque aí não se queima com o Planalto e pode ter voto vinculado com todo mundo – PSDB, PT. Ele quer garantir a eleição dele e fazer uma grande bancada”, suspeita.


A fonte tem razão em pelo menos um ponto: Jader, de fato, enfrenta forte reação do PMDB, para uma aliança à reeleição de Ana Júlia Carepa.

Após as reuniões que manteve com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o ex-ministro da Casa Civil, Zé Dirceu, no mês passado, o morubixaba peemedebista teria aceitado a recomposição da aliança com Ana Júlia. Mas, teria decidido, também, “auscultar” as bases peemedebistas.

“Teria havido uma reunião e, quando o Jader falou sobre isso, teria sido um ‘papoco’, um alvoroço só. É possível até o cenário de o Jader apoiar a Ana, mas, liberar as bases”, confidencia um petista.

“Não houve reunião e liberar as bases, para nós, é suicídio” – corrige um peemedebista – “O que aconteceu é que a bancada saiu conversando com prefeitos, vereadores e lideranças e ninguém quer apoiar a Ana. Só eu levei uns três ou quatro dias fazendo isso. Conversei com doze prefeitos e só um disse que a apoiaria. O resto foi esse ‘papoco’ que você está falando”.


Máquina Mortífera


Mas, como é que o blocão vê a possibilidade dessa aliança com o PMDB, em torno de Jader Barbalho?

“E quem foi que disse que o Duciomar será candidato ao Senado?”- indaga uma liderança do PTB – “Conversei com ele duas vezes, no final do ano passado e no começo deste ano, e ele me disse que não é candidato, não sai da Prefeitura”.

Diz que não fala sobre “futurologia” e que só comentará a proposta “quando estiver em cima da mesa”.

Acha que é muito cedo para o fechamento de qualquer aliança, uma vez que as convenções partidárias só acontecerão em junho e as coligações serão norteadas pelo cenário nacional.

Admite a possibilidade de que o PTB “apóie Anivaldo, Ana, Jatene, qualquer um”, ao Governo do Estado. Mas, salienta: “O que está definido é a aliança com o PR e o que mais se fala não é nem apoiar o Jader, nem nada, mas ter uma terceira via”.


Os nomes apontados para capitanear essa alternativa, por exemplo, são os do vice-prefeito de Belém, Anivaldo Vale, e do ex-prefeito de Marabá Tião Miranda.

Mas o PTB poderia apoiar a candidatura de Jader ao Governo?

“Por que não?” – pergunta a fonte – “Ele pode ser candidato? Então, a gente pode apoiar. Depende da proposta de governo e dos compromissos assumidos”.

No PR, uma liderança vai pelo mesmo caminho: “Não temos restrição a ninguém: nem Jader, nem Ana, nem Jatene. E, se interessar ao partido, não vejo dificuldade nisso (a aliança com o PMDB). A gente não tem dificuldade de fechar com ninguém, desde que o compromisso seja bom para o partido”.

Perguntei-lhe o que pensa sobre a possibilidade de ascensão do PR ao comando da PMB, que seria aberta por essa aliança.


A resposta: “Seria bom, não tenha dúvida disso. A PMB é importante não só para o partido e o Pará, mas, também, nacionalmente. Mas o importante, se formos apoiar A, B ou C, será a garantia de apoio a todas as nossas prefeituras”.


Ele não duvida que a união do PR/PTB com o PMDB resultaria numa coligação muito, muito forte.


“Acrescente o PMDB ao bloco PTB/PR e isso tufa de uma hora para outra. É uma chapa praticamente imbatível; não vejo como algum grupo político tenha forças para enfrentar isso. Junte aí o DEM, com seis prefeituras, se não me engano. Qualquer pessoa gostaria de ter uma candidatura apoiada por um bloco tão forte. É uma candidatura cheia de músculo, que, com certeza, elegerá o governador e um senador”, comenta.


Ontem, Jader e o presidente estadual do PR, Anivaldo Vale, foram vistos conversando longamente no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília.

E, ao que se sabe, ficaram de marcar a data para um novo bate-papo.

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