terça-feira, 29 de abril de 2008

senhas

Senhas


Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto


Eu agüento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos


Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto


Eu agüento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu agüento até os caretas
E suas verdades perfeitas


O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto


Eu agüento até os estetas
Eu não julgo competência
Eu não ligo pra etiqueta
Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
E compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades


O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Não, não gosto dos bons modos
Não gosto


Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem ...


(Adriana Calcanhotto)

segunda-feira, 28 de abril de 2008

emoção!

Xentes:



Sério que ando brincando de me emocionar com a Perereca.


Como fiquei com medo de algum apagamento acidental, copiei o blog.


Até porque pretendo lançar dois livros, no final do ano: um de artigos e matérias jornalísticas; outro, de produção literária, digamos assim.


E juro que me emocionei ao perceber o tanto que já escrevi.


A reprodução, em corpo pequenininho, deu mais de mil páginas! Mais de mil!...


E eu comecei a reler artigos, notícias, crônicas e poemas de outrora; coisas que já nem me lembrava de ter escrito.


Gostei à beça.


Até porque este blog começou como uma brincadeira – vide o nome escolhido...


Lembro que liguei para a minha mãe espiritual, a Eneida, e disse: decidi lançar um blog!... Assim, no meio da noite.


Aí, ela me perguntou que blog era.


E eu respondi: A Perereca da Vizinha.


E ela caiu na gargalhada...


Ao reler estas tantas páginas, percebi, de repente, que esta “brincadeira” já tem mais de dois anos. Pois, que nasceu em fevereiro de 2006.


Neste meio tempo, refiz o visual, apaguei acessos... Mas, sobretudo, cresci, mudei – de jeito, de corpo, de alma.


Cresci, junto com vocês. Aprendi a rir e a chorar junto com vocês.


Me debati, quis ir embora, voltei... E a gente a falar, a se identificar, mesmo que silenciosamente.


E a gente a se entender – mesmo nessa perplexidade diante do falar e do silêncio...


Bacana isso, pra lá de bacana.


Fico, assim, emocionada...


Vou “mimi”.


Na certeza de que hei de sonhar com cada um de vocês!...


Beijinhos.


E não deixem de ler o post abaixo, bem menos trêbado do que este!


FUUUIIIII!!!!!


Pagu



(Tem um preço... Não é mole não... Tem que ser macho!... Mas é bom!...)



Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira
Sabe o que é ser carvão
Eu sou pau pra toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Minha força não é bruta
Não sou freira nem sou puta



Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem



Ratátátá



Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Fama de porra-louca, tudo bem
Minha mãe é Maria-Ninguém
Não sou atriz-modelo-dançarina
Meu buraco é mais em cima



Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem



Ratátátá



Composição: Rita Lee e Zélia Duncan

2010


2010: a dobradinha tucano-peemedebista




I



Passei a semana atarantada com o trabalho. Mas, também tive tempo de pensar na gafe que cometi em relação à idade mínima para governador – e eu, novamente, agradeço a consideração e delicadeza do deputado Vic Pires Franco, em me chamar a atenção para um erro tão grosseiro.



Pensei muito sobre isso. E acabei chegando à conclusão de que errei na entrada, mas, acertei na saída.



Afinal, a opinião que expressei foi a de que Helder Barbalho não será candidato ao Governo do Estado, em 2010.



Sustento isso, contra todos os prognósticos que estão a ser feitos neste momento. E explico por que.




II


Em primeiro lugar, creio que seria suicídio político uma eventual insistência de Jader, na candidatura de Helder, ao Governo, daqui a dois anos.



O problema é que Helder é um garoto que ainda terá de comer muito feijão, até habilitar-se, de fato, à governança.



Helder patinou na gestão de uma prefeitura – e olhem que não se trata nem da prefeitura da capital, com seus gigantescos problemas, que dizem respeito a uma população três vezes maior que a de Ananindeua.



Helder não fez nem o básico: não foi capaz, por exemplo, de visualizar o mapa político do município, para concentrar investimentos nas áreas mais densamente povoadas.



Não conseguiu eleger outro critério para compor o secretariado, além da simples amizade.



E nem marcou presença, cotidianamente, entre a população, o que nem é assim tão difícil, num município como Ananindeua: bastaria, por exemplo, que tivesse tirado um dia por semana, para percorrer os bairros e ouvir a população, para que não se encontrasse em situação eleitoralmente aflitiva.



Mais grave, ainda, é que faltam ao herdeiro político de Jader noções mais densas de administração pública, digamos assim...



O garoto precisa aprender que não basta o blá-blá-blá, a articulação razoavelmente correta do discurso, do ponto de vista puramente político, formal. Ou o tom de voz idêntico ao do pai.



É preciso rechear a oratória de conhecimento efetivo, demonstrar domínio dos meandros da administração.



Saber, de fato, o que se está a fazer e o que se pretende fazer à frente de um município.



Para apontar o caminho ao restante da “corte” e despertar, nos ouvintes, o amor, o compromisso com a liderança que se está a cultivar.



Mas, tudo isso demanda vontade e gasto de neurônios: é dedicação em aprender.



Demanda grande dose de humildade.



Coisa difícil de fazer brotar no coração de quem nasceu em berço de ouro...



Qualidade, enfim, que só o tempo e as muitíssimas “horas de estrada” são capazes de construir...




III


Se estivéssemos a falar, apenas, da platéia, da massa eleitoral, talvez que até pudéssemos pensar numa prestidigitação básica – aquela manipulação simbólica que a maioria de nós, que trabalha em política, sabe realizar – para fazer de Helder uma opção à governança, em 2010.



Mas, o problema são os lobos; as alcatéias que, desde pequenininhas, aprenderam a não acreditar em Papai Noel... E que têm pleno domínio da informação, especialmente aquela que a manipulação e a grande mídia buscam esconder...



Mesmo tendo um partido de grande porte, o maior do Pará, como é, efetivamente, o PMDB, Helder precisaria do apoio de outro(s) grande(s) partido(s), para chegar ao poder.



E quem o apoiaria? O PT? O PSDB?



Não, é mais inteligente jogar assim: Jader para o Senado, agora que o arquiinimigo ACM vocifera sabe-se lá onde, e que a Veja já tem até parceria dominical com o Diário...



Até porque, em 2010, serão duas vagas para o Senado – as de Flexa e Nery, dois candidatos eleitoralmente fracos.



Nesse caso, Helder seria vice-governador – do PT ou do PSDB.



O PMDB ficaria com uma ampla fatia no Governo, obtendo para Helder, também, uma secretaria de expressão, na qual pudesse crescer política e administrativamente.



Tudo sob os cuidados do pai, com poderes ainda mais amplos, devido à cadeira no Senado Federal.




IV



É claro que há duas outras hipóteses: Helder para o Senado ou para deputado estadual, para ascender à presidência da Assembléia Legislativa.



Mas, ambas me parecem problemáticas.



Não que o herdeiro político de Jader não tenha condições de sair vitorioso.



Para a Assembléia Legislativa, não precisaria nem sair de casa.



Para o Senado, as chances são muito boas, porque teria o fervor da máquina eleitoral que é o PMDB. E, dependendo do acordo político, o apoio de outro grande partido.



Penso, portanto, que o problema não está na viabilidade eleitoral de tais hipóteses.



Mas, no fato de que ambas não resolvem a baixa capacidade política e administrativa de Helder – uma falha que precisa ser sanada, para que possa, um dia, chegar a governador.



É certo que o Senado é uma escola extraordinária.



Mas, pegar um garoto que patina numa prefeitura e jogá-lo no Senado seria o mesmo que pegar um aluno do jardim da infância e mandá-lo para a universidade.



Os riscos seriam demasiado grandes, devido aos “zolhões” da imprensa nacional e dos inimigos locais.



E é provável que nem o monitoramento constante e atento de uma raposa política como Jader, conseguisse evitar um tombo, talvez fatal, para a carreira do garoto.



Além disso, o Barbalho-mor não é eterno – e, certamente, sabe disso...



Por isso, precisa que o herdeiro aprenda a caminhar com as próprias pernas. Embora que num ambiente razoavelmente seguro.




V


Vou, então, partir da hipótese que me parece a mais inteligente, entre aquelas que consigo visualizar: Helder para vice-governador, em 2010.



Nesse caso, com quem seria a aliança do PMDB? Muito provavelmente com o PSDB.



Ora, alguém pode perguntar: mas, se a idéia é fazer de Helder, futuramente, o governador, não seria mais razoável a aliança com o PT, vez que, em 2014, Ana não poderá mais ser candidata ao Governo, o que, em tese, facilitaria a ascensão do vice?



A pergunta-argumento seria razoável, de fato, se Ana não pertencesse ao PT.



Pois, como disse, certa vez, Hélio Gueiros, essa outra raposa política, o problema é que o PT não faz (cumpre) acordo nem com ele mesmo.



Podemos até imaginar, ainda que remotamente, que os petistas cedessem a vice ao PMDB e, além disso, não o fizessem comer o pão que o diabo amassou.



Mas, certamente, quando chegasse em 2014, ele seria afastado da disputa, por alguma tendência insurreta – e o PT as possui em profusão.



Até porque as bases petistas só fazem campanha – e, às vezes, até nesse caso, a contragosto – para outro petista.



Com o PSDB, as chances são um pouco melhores.



Valéria, por exemplo, apesar de ser do PFL, foi amplamente digerida pelos tucanos – e eu tive a oportunidade de ver tucanos históricos gritando, empolgados, o nome dela, na convenção do PSDB, em 2006.



Agora mesmo, há um amplo contingente tucano, ansioso por apoiá-la para a Prefeitura de Belém.



E que só não o fará se Jatene for candidato a prefeito – o que é improvável, dada a enormidade de parentes aboletados na administração Dudu...



Mais importante que tudo isso, porém, é o agora. A premência de garantir a reeleição de Helder.



Isso porque a vitória de Helder, em Ananindeua – e conseqüentemente, o seu futuro político – dependem muito mais do PSDB do que do PT.



Se Jatene conseguir, ainda que por vias transversas, neutralizar o fator Pioneiro, a eleição de Helder estará garantida.



E o garoto terá dois anos, para se redimir dos “pecados” cometidos, nos primeiros quatro anos, naquela prefeitura.



Já se o fator Pioneiro continuar em cena, mesmo o apoio do PT não será suficiente para devolver o sono aos Barbalho.



Haverá, talvez, uma guerra cruenta, de resultados imprevisíveis. Mas, com prognósticos iniciais amplamente favoráveis a Pioneiro.



Lembro que, em entrevista recente, Flexa Ribeiro me disse algo precioso: “as alianças começam agora”.



É verdade: a definição do quadro de 2010 está a se desenhar diante dos nossos olhos, nas municipais.



Se Jatene neutralizar Pioneiro – é claro que, também, com a ajudinha do esforço gigantesco que está sendo feito por Jader – a estrada estará aberta, e mais que isso até asfaltada, para uma aliança tucano-peemedebista, daqui a dois anos.



Mais ainda com a incapacidade dos petistas em “ver”, de fato, o jogo político, para além das questiúnculas; para além das comezinhas disputas de poder entre as suas várias tendências – e até no interior de tais tendências.



O resto é buscar as necessárias fontes de financiamento, longe das esferas federal e estadual, ambas controladas pelo PT...



E o fato é que, concretizada tal dobradinha, ela será virtualmente imbatível.



Com dinheiro em caixa e os dois grandes grupos de comunicação da terrinha como aliados, tucanos e peemedebistas só perderão essa guerra se cometerem algum erro crasso - tipo enforcar a própria mãe em praça pública.



Coisa que, sinceramente, não vejo nem Jader nem Jatene a fazer...



E agora me desculpem, que eu vou me encachaçar em paz.



FUUUIIII!!!!!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

coração



Do fundo do coração


Pega meu coração... Leva-o, é teu!...
Vê como bate acelerado,
Meu coração, triste e cansado,
Ao leve toque de tua mão!...


Vê o sangue que goteja,
À procura de tuas veias
E do peito que o consola!...


Deixa que durma em teu braços,
No calor de tuas narinas,
No perfume de teus lábios!...


Pois que quando nasceram as almas,
As nossas, talvez por defeito,
Nasceram, assim, trançadas...
Perdidas numa alma só!...


Pega meu coração,
Pois não há céu sem que o vejas!...
Pois que ao meu coração só contenta
O universo que encandeia
No reluzir do teu olhar!...


Belém, 22 de abril de 2008.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Exclusão



Exclusão de Postagem


Resolvi excluir a postagem "Pensando, Pensando".


O problema é que a postagem padecia de um erro insanável: nela eu afirmava que a idade mínima para governador é de 35 anos, como ocorre para o Senado.


Não é verdade: a idade mínima para governador é de 30 anos; para o Senado e Presidência da República é que é de 35 anos.


Quem detectou o erro e me avisou, via e-mail, foi o deputado federal Vic Pires Franco.


E eu agradeço ao deputado a visita ao blog e a consideração demonstrada.


Como, a partir de um dado falso, eu fazia uma série de ilações sobre as eleições de 2010 (todas, portanto, equivocadas na origem), decidi que o melhor caminho era a exclusão.


Peço imensas desculpas ao leitores, pela falha deplorável. Sinto-me, de fato, envergonhada...


E, sim, acho que preciso beber menos, antes de escrever. Além de aprender a ser menos arrogante, é claro...


Mais uma vez, muito obrigada ao deputado pelo "toque".


FUUIIIII!!!!

Luísa1

Luísa



Capítulo I



Da janela, Luísa contemplou as imensas ondas a quebrar na praia. O céu quase sem nuvens, o horizonte a envolver a paisagem e a própria vida. O sol, a abrasar-lhe o corpo. O vento quente, a acariciar os longos cabelos negros.



Sentiu falta das mãos de Armando. As mãos macias que navegavam em seus seios, em seu ventre, até aportarem, docemente, entre as coxas.



E então, ele as abria, como quem abre janelas ao mar...

Impacientemente, abruptamente, para respirar. E a penetrava profundamente. Com a sofreguidão de um animal.



Luísa pensou em como a vida era engraçada, afinal. Há dois anos, quem diria que estaria ali, sozinha, a contemplar o mar?



E até se pôs a filosofar, acerca do grande mistério da vida.



Lembrou-se das gaivotas que, de manhãzinha, se lançavam sobre as ondas, em busca de peixes. E pensou que sempre haveria mais gaivotas e mais peixes, nas águas que se sucediam perpetuamente, a cada manhã.



O telefone tocou.



_Dona Luísa, dona Luísa...
_O que foi Carol?
_A Polícia teve aqui; saiu agorinha. Tão atrás da senhora... Perguntaram se eu sabia onde é que a senhora tá... Eu disse que não sabia; que a senhora foi embora há dois anos... Aí, eles perguntaram o que é que eu tava fazendo no seu apartamento. Aí eu disse que a sua mãe me manda limpar o apartamento, todo fim de mês. Aí eles foram embora, atrás da sua mãe...
_Se acalme, Carol, se acalme... Eles perguntaram pelo doutor Armando?
_ Perguntaram, sim senhora... Perguntaram se eu conhecia o seu Armando, como é que ele era, se vocês se davam bem... Eu disse que vocês se amavam muito... Aí disseram que acharam o resto dele... Sabe aquele esqueleto que encontraram nas matas da Ceasa, aquele que até apareceu na TV?
_Pegue as suas coisas, Carol, e desapareça daí... Pare num cyber, como eu lhe ensinei, e acesse a minha conta do Bradesco. Saque o que puder e se esconda no sítio...
_Eles vão me encontrar, dona Luísa.
_Se acalme, Carol, que não vão, não... Eu comprei o sítio antes de tudo aquilo; nem tá no meu nome. E o dono era um velhinho sem família, que nem tem TV... E você só vai ficar lá por uns dois dias, enquanto eu dou um jeito de lhe mandar mais dinheiro, ok? Você sabe que vai ter de sair do Brasil, não é?
_Sei, sim senhora...
_Como é que está a sua filhinha? Você tem levado a Jéssica à doutora Fátima?
_Tenho, sim senhora... Mas, não tem jeito dela se livrar daquele sonho mau... Toda noite ela acorda gritando, dona Luísa... E aquilo já tem dois anos!...Será que a minha filhinha nunca vai se curar?...
Pôs-se a chorar. Luísa falou brandamente, mentindo, como a uma criança.
_É claro que a Jéssica vai ficar boa... Se acalme, pare de chorar, Carol... Seja forte, pela sua filhinha; ela precisa de você... Você não confia em mim?...
_Confio, sim, dona Luísa... Sempre confiei e sempre vou confiar... Mais ainda depois daquilo... A senhora é uma mulher de fé!...
_Obrigada, Carol...
_E pode deixar que eu vou fazer tudo direitinho, do jeitinho que a senhora me ensinou, viu?
_Obrigada, querida!...



Desligou o telefone e voltou a contemplar o mar. E como que viu o rosto de Armando, a se levantar das ondas, sorrindo, sarcasticamente, para ela.



Despertou-lhe a filha, com o barulhão que sempre fazia ao entrar na casa.



_Olha só, mammy, quantos caranguejos eu peguei!...



A menina, de 13 anos, estava coberta de lama, da cabeça aos pés.



_Ô Mariana, mas o que é que você pensa que está fazendo?... Olhe só pra você, tem lama até na sobrancelha!... E tá sujando a casa inteira!... Você vai limpar tudinho isso, ah, se vai!... Já pro banheiro, já!, sua moleca!...Sape daqui!...



A menina correu pro banheiro e Luísa desatou a rir. Lembrou-se das vezes que chegara em casa, com os joelhos em petição de miséria e ensopada de chuva.



Lembrou-se dos sermões da mãe, dona Maria do Carmo: “Você parece um moleque, isso lá é jeito de menina!... Assim, você nunca mais que vai casar!...”

sábado, 19 de abril de 2008

canção

Canção Do Mar



Fui bailar no meu batel
Além do mar cruel
E o mar bramindo
Diz que eu fui roubar
A luz sem par
Do teu olhar tão lindo


Vem saber se o mar terá razão
Vem cá ver bailar meu coração


Se eu bailar no meu batel
Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo


Vem saber se o mar terá razão
Vem cá ver bailar meu coração


Se eu bailar no meu batel
Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo


(Frederico de Brito/Ferrer Trindade)

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Boa Noite!

Tchau!



Queridinhos:



Novamente, vou dar um tempo no blog.

Adorei essas rasantes urubu-veropesísticas!...

Mas, preciso arranjar o leite das crianças...

Bom tê-los aqui, novamente!...

O cafofo é de vocês; sintam-se em casa!...

E se houver outro maremoto, ulha que avorto!...

E avorto com uma gana danada de...retribuir!...

Principalmente, a paciência bacana de vocês!...



Do Fundo Do Nosso Quintal



Mais um pouco e vai clarear
(Vai clarear!...)
Nos encontraremos outra vez!...
(Mais uma vez!...)
Com certeza nada apagará
(Nada apagará!...)
Esse brilho de vocês!
(De vocês, de vocês!...)

O carinho dedicado a nós
Derramamos pela nossa voz
Cantando a alegria de não estarmos sós!


(Boa noite, boa noite!..)


Pra quem se encontrou no amor!
(Boa noite, boa noite!...)
Pra quem não desencantou!
(Boa noite, boa noite!...)
Pra quem veio só sambar!...
(Boa noite, boa noite!...)
Pra quem diz no pé e na palma da mão!
(Boa noite, boa noite!...)


Pra quem só sentiu saudade, afinal...
Obrigado do fundo do nosso quintal!...

(Jorge Aragão)

terça-feira, 15 de abril de 2008

Mário


Mário Cardoso, o virtual candidato do PT




A deputada estadual Regina Barata renunciou, agora à noite (15/04), a sua pré-candidatura a prefeita de Belém, pelo Partido dos Trabalhadores (PT).



Com isso, o ex-deputado e ex-secretário estadual de Educação, Mário Cardoso, é o virtual candidato do partido à prefeitura da capital: o prazo de inscrição das pré-candidaturas petistas encerrou às 18 horas de hoje, sem o registro de outros pré-candidatos.



Regina disse que renunciou em prol da unidade partidária. E considera que, a partir da consolidação da candidatura de Mário Cardoso, “há um acordo para que o PT tenha candidato próprio à prefeitura de Belém”.



Fonte próxima à deputada contou, aliás, que Regina resolvera habilitar-se à disputa, justamente com esse objetivo: “Circulavam afirmações de que o presidente Luís Inácio Lula da Silva indicava o apoio a outro partido. E ela entendeu que a candidatura do PT, na capital, é inegociável. Não teria cabimento ocuparmos, apenas, a vice de alguém, uma vez que somos um partido grande e até já administramos Belém, recentemente, durante oito anos”.



Pelo telefone, Mário Cardoso considerou normal a decisão de Regina. “É o processo democrático. Como tínhamos que acumular o apoio das pessoas com quem íamos conversando, talvez que eu tenha tido mais êxito do que ela”.



Mário informou, também, que aproveitará as datas dos debates que haviam sido marcados com Regina, para a realização de plenárias, que ajudarão na organização e futuro planejamento de campanha.



O blog também conversou com uma fonte petista, que garantiu inexistir, agora, qualquer possibilidade de o governo petista apoiar a eventual candidatura de Priante, do PMDB, à prefeitura da capital.



“Temos os governos estadual e federal e vamos continuar conversando com o PMDB, que é o nosso principal aliado em ambos os níveis” – disse a fonte – “E Priante, certamente, participará dessas conversas, mas como dirigente do PMDB, e não como candidato”.



E acrescentou: “O PMDB tem de resolver o problema dele. Não há como o PT abrir mão de uma candidatura própria em Belém”.



A fonte lembrou que o nome de Mário Cardoso nasce com bom respaldo popular para a disputa: dos 900 mil votos que teve, em 2006, para o Senado Federal, cerca de 250 mil vieram da capital.



Já no caso de Priante, dos 450 mil votos que obteve, para o Governo do Estado, apenas 91 mil vieram de Belém.



O apoio de Ana Júlia a Mário Cardoso é dado como certo, devido à existência de um compromisso da governadora de apoiar o candidato sagrado nas prévias partidárias.



“E, aliás, sempre foi assim” – observou uma fonte – “Pode até haver disputa, mas, quando o partido decide, todos cerram fileiras em torno da decisão”.



O encontro estadual do PT que sacramentará a candidatura de Cardoso está marcado para o próximo 28 de maio.

charles5



A Saída de Charles 5



Lembrei-me, hoje, de que falamos, falamos e não fizemos o básico: ouvir um dos principais interessados nas conseqüências da substituição de Charles Alcântara na Casa Civil do Governo do Estado.


No caso, o PMDB, o principal partido de sustentação do governo de Ana Júlia Carepa.


O PMDB que, com o espaço que ocupa na administração estadual e eventual parceria nas composições municipais, parece ser o pomo da discórdia da DS, a Democracia Socialista, tendência à qual pertence a governadora Ana Júlia Carepa.


E eu até peço desculpas aos leitores do blog por essa falha – imensa, por sinal.


Assim, fui conversar com o PMDB. Que, ao que me pareceu, não está lá muito preocupado: aguarda, na verdade, o desenrolar os acontecimentos, para ver o que fará – se é que já não sabe, afinal...


“Isso é um problema do governo e não temos como interferir. Desconhecemos as razões disso. Sabemos que foi uma disputa de poder - da qual não participamos. E vamos nos manter indiferentes a isso”, disse-me uma alta fonte peemedebista, acerca da saída de Charles e da ascensão de Puty à coordenação política do Governo do Estado.


Sobre a eventual mudança de postura do governo, em relação ao PMDB, a partir dessa substituição, como vem sendo especulado, a fonte afirmou:


_ O nosso relacionamento com o Charles sempre foi tranqüilo, mas, dentro da normalidade. Quem representa o PMDB somos nós. E não achamos que o Governo tenha interesse em especulações. Não conhecemos o Puty, para fazermos um juízo. E nem queremos fazer isso, porque pode ser equivocado, preconceituoso. Nossa relação é com a Ana. E, até prova em contrário, o chefe da Casa Civil é um auxiliar da governadora. Entendemos que tudo isso é um problema no âmbito do PT.


E prosseguiu: “Se isso tudo significa um racha, se eles acham que o desempenho do Charles não ficou à altura... A nossa expectativa é o juízo deles!... Não temos queixas do Charles, como não temos do Puty. Não tivemos tempo de estabelecer com ele (Puty) uma negociação. E essa história de ficar mais difícil a relação com o governo, não temos condições de aferir... É complicado... Não temos a ver com isso, temos a ver com o PMDB, que ajudou na eleição e tem procurado ajudar o Governo, na Assembléia Legislativa. Não queremos fazer um juízo precipitado. Não temos sinalização alguma de alteração nas relações com o governo. O Charles não era da cota do PMDB. Ele nos foi apresentado pela Ana, desde o início, como uma pessoa importante. E foi ele a pessoa que conversou conosco”.


Sobre as conseqüências futuras para a aliança com o PT, caso venha a se configurar, de fato, essa mudança de postura do governo em relação ao PMDB, a fonte, embora sempre cautelosa, até brincou:


_Não podemos colaborar com esse tipo de especulação. Não vemos motivo para que a relação com o governo mude. Se a Ana tivesse colocado, na chefia da Casa Civil, o Orly Bezerra, aí eu diria: acho que as coisas vão ficar... diferentes! Mas, esse Puty, eu não sei quem é... Nunca o vi fantasiado de dragão!... Então, como vou apostar que as coisas vão mudar?

segunda-feira, 14 de abril de 2008

charles4

A Saída de Charles4





I



Alta fonte petista me pede para fazer alguns reparos aos posts que publiquei, sobre a saída de Charles Alcântara da Casa Civil do Governo do Estado.


Em primeiro lugar, garante a fonte, não foi a Democracia Socialista (DS), a corrente à qual pertence a governadora Ana Júlia Carepa, quem pediu a substituição do chefe da Casa Civil.


“O Charles e a Edilza (Fontes) são os principais dirigentes da DS no estado. A DS local tem uma executiva de 11 pessoas, mas nem o Marcílio, nem o Puty fazem parte da direção – apenas o Maurílio. E o Botelho sequer é do PT. Existe, inclusive, uma insatisfação muito grande, na DS, em relação à forma como essa substituição foi conduzida. Ninguém sabia de nada, fomos surpreendidos. E estamos, inclusive, pedindo calma aos companheiros, para evitar uma crise interna”, confidencia.


Segundo a fonte, o que aconteceu “foi uma avaliação, uma posição de um grupo, que tem uma relação antiga e que resolveu se reaproximar”. E é esse grupo - do Governo, e não da DS – que seria integrado por Puty, Botelho e os irmãos Maurílio e Marcílio Monteiro, todos artífices da substituição de Charles Alcântara.


“Então” – prossegue – “o que aconteceu foi, justamente, o oposto: a tendência é que se curvou às decisões do governo”. E completa: “O governo toma as decisões e muita gente imagina que é a DS que está decidindo. Mas, na verdade, a DS está subsumida no governo. Até porque a tendência pode se posicionar, mas não para o governo, nessa questão da estratégia eleitoral. Porque nem é o governo o fórum para a discussão dessa estratégia. Quem tem de debater e decidir sobre isso é o partido, o PT”.


A fonte diz, ainda, que não se sabe se Ana Júlia queria, de fato, a saída de Charles. “Creio que ela foi convencida disso. Acho que ela resistiu o quanto pôde e ele (Charles) só permaneceu mais tempo por causa dela, que foi segurando tudo isso, devido à importância do contraponto que ele representava a esse grupo. Isso aconteceu durante cinco ou seis meses, mas, agora, ela foi instada a fazer uma escolha”.


Pergunto se o fato de a governadora ter sido “instada” a isso não significa, ao fim e ao cabo, que ela teve de obedecer a uma decisão da tendência, da qual esse grupo teria, em verdade, o controle.


A fonte afirma: “Não, isso não significa que ela tenha obedecido a uma ordem. Ela fez uma escolha. E ela pode ter decidido, por exemplo, que não ia passar todo o governo administrando essa tensão interna”.



II



A fonte acentua a necessidade de respeito à pluralidade social. Observa que o pensamento médio dos petistas não “combina” com o pensamento médio da sociedade.



E que, se o PT não é hegemônico na sociedade, muito menos a DS.



“Não ganhamos as eleições sozinhos e não conseguiremos governar sozinhos” – pondera – “Há uma diferença em se procurar ampliar o espaço na sociedade. Isso é um processo gradativo. Você não pode, simplesmente, impor o seu pensamento. A Assembléia Legislativa, aliás, é um exemplo dessa diversidade social”.



A fonte salienta que, ao contrário do que é dito por setores da imprensa, Charles Alcântara não “defendia” o PMDB: “O que ele (Charles) defendia era o respeito aos acordos políticos, até porque isso é uma base ética de vida. Não podemos fazer um acordo para ganhar as eleições e depois dizer: ‘agora, vai ser do nosso jeito’. E o acordo que foi feito pelo PT, e do qual o Charles foi, apenas, testemunha, foi de que o PMDB teria um terço do governo. Então, por que queremos, agora, solapar esse acordo?”.



E acrescenta: “Não tem por que se atrapalhar. Temos um programa de governo que não é preciso negociar e todos os secretários que tocam o governo – Fazenda, Planejamento, Casa Civil, Educação, Banpará... E até mesmo a Sespa é compartilhada”.



A fonte critica, ainda, “esse discurso de combater a corrupção, apontando apenas para o outro, mas sem olhar para si próprio. Só há de se falar em combater a corrupção, em relação ao PMDB como se fala – e eu nem concordo com essa visão – se o PT puder olhar para dentro e dizer: isso não existe aqui”.



III



Na avaliação da fonte, a governadora Ana Júlia Carepa cometerá um erro, caso se envolva nas disputas eleitorais dos municípios: “Toda eleição municipal gera traumas. E é, apenas, um rito de passagem para a eleição seguinte – para presidente da República, governador, deputado – que é muito mais importante. Nós governamos o Pará e não há coisa mais importante que isso. Portanto, não precisamos nos envolver no próximo pleito. Temos de ser respeitadores, elegantes, porque isso ajuda o governo”.




Mas, se houver a intervenção do governo nas municipais, repisa, “corremos o risco de ganhar nesse ou naquele município, mas, daqui a dois anos, acabarmos derrotados para o Governo. O candidato a prefeito que ajudarmos a derrotar terá todo o direito de nos negar apoio. Além disso, temos de ter em mente que nem há como compreender as idiossincrasias dessas disputas locais”.



A fonte comenta que era isso que Charles Alcântara queria: “Fundamentalmente, respeito e coerência com as coisas defendidas pelo PT. E não essa coisa de ficar encolhendo ou aumentando os espaços dos partidos”.



Aponta o exemplo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, “que apanha e apanha da imprensa e não cai; e faz alianças e respeita essas alianças e enfrenta brigas no Congresso... Então, como podemos querer fazer diferente, aqui?”.



E alfineta: “Não há comportamento revolucionário em pensar diferente disso. E revolucionário não trai, não é antiético, não fica conspirando, dando golpe... O diabo mora é no detalhe”.




IV


A fonte também comenta as críticas feitas pelo blog aos intelectuais da esquerda, como Puty.



Que, apesar das toneladas de livros que leram, não têm nem idéia de onde fica a Vila da Barca – e a Perereca repete a expressão em homenagem ao mano Bemê (o Bemerguy do Espaço Aberto) que parece tê-la adorado...




“Assim como quem não tem diploma sofre preconceito” – observa a fonte – “quem é doutor sofre também. Temos de evitar isso. Porque, na verdade, o que complica é quando só se tem isso; não se tem militância. Então, a preocupação não é, necessariamente, a Academia, mas o distanciamento da vida, do cotidiano. É preciso aliar os dois elementos: aprofundar a teoria e a conectividade. E o que nós estamos percebendo, nesse episódio, é uma preocupação do PT em relação a isso. Há uma aflição com o distanciamento do partido. O Governo não se basta. Há uma teia complexa de relações. E é preciso dialogar com todo mundo, inclusive com a oposição. E é claro que há um risco em se colocar numa tarefa como essa alguém sem vivência política. Em geral, você coloca na coordenação política alguém experiente”.



E aconselha: “Há categorias que é preciso ter cuidado para não confundir. Exemplo: firmeza com arrogância, humildade com fraqueza, autoridade com autoritarismo”.



V



A fonte acredita, porém, que a saída de Charles não desembocará em uma guinada “à esquerda” do governo, como vem sendo previsto – na verdade, um fechamento aos partidos aliados, na administração estadual e nas alianças municipais, com a preponderância da DS e do PT e de outros aliados históricos do petismo, como é o caso do PC do B e do PSB.



“Acho que os sinais emitidos, nesse processo de substituição, assustaram e nem deve haver mais essa guinada do governo. É um risco; pode gerar muitos problemas institucionais. Em 15 meses, nunca tivemos crise na Assembléia Legislativa. Isso costuma custar caro e nós conseguimos evitar isso”, observa.




A fonte acredita, também, que a falta de experiência de Puty, até pode ser compensada, de início, pelo poder que acumulou.



Mas, pondera, “esse tipo de coisa só funciona no curto prazo. Ele tem força, tem poder, para mandar um secretário de Estado atender esse ou aquele pedido de um deputado, por exemplo. E hoje, o secretário atende, mas, com o tempo, esse tipo de coisa tende a se enfraquecer, porque as demandas vão ficando cada vez mais complexas”.



VI



Publico essas retificações porque tenho o maior prazer em acolher o contraditório – é bacana, é democrático.



Mas, mantenho tudo o que escrevi.



Acho complicada essa coisa de um grupo “instar” uma governadora, a “detentora da caneta”, a fazer alguma coisa.



A não ser que, por trás desse grupo, exista, na verdade, uma tendência que preza a “disciplina” de seus militantes – e esse é o caso da DS – e uma governadora que, por convicção ideológica, se submeta a essa disciplina.



Não creio que isso deponha tanto assim contra a minha xará. Afinal, essa é apenas uma forma de encarar o mundo e a militância e a luta política.




E pode até gerar admiração, porque, apesar de todo o poder que efetivamente detém, ela ainda se submete às decisões dos companheiros de ideal societário.



Porque seria muito fácil para Ana Júlia, agora que é governadora, simplesmente mandar a DS às favas e mudar-se de mala cuia para o PT pra Valer ou a Unidade na Luta, as duas correntes petistas que, de fato, comandam o partido no estado.



Mas, ao mesmo tempo, considero complexa essa coisa de a DS cobrar essa ou aquela postura da governadora.



Porque a eleita por nós, cidadãos, foi a cidadã Ana Júlia Carepa.



E não o “mandatário” de plantão de sua corrente política, como me parece ser o caso de Puty.



Além disso, a informação de que a substituição de Charles foi decidida pela DS me foi passada por alguém que acompanhou, muito de perto, tudo isso. E nem foi uma coisa que quisesse revelar – simplesmente, soltou.



Peço desculpas à fonte, porém, por somente hoje estar publicando essas declarações, que me foram feitas na sexta-feira.



É que fui encher a cara com um amigo. E só hoje me encontro razoavelmente recuperada.



Aliás, queridinho(a) você também está me devendo uns vinhos...



FUUUUIIIIIII!!!!!

domingo, 13 de abril de 2008

clarão

Clarão


O rochedo tem dureza
O corisco tem clarão
É do mar a profundeza
A escureza é do carvão
Toda vez que te procuro
E você me diz que não
A tristeza põe a mesa
Na palma da minha mão
Onde nasce uma paixão
Passa um rio de ilusão
Passa de brincadeira
Deixa de brincadeira
Entra na brincadeira
A vida não vai passar em vão
Natureza tem beleza
O azedo é do limão
É do rio a correnteza
A leveza é do balão
Toda vez que te perjuro
E você me dá razão
Passa um rio de incerteza
Dentro do meu coração


(Cacaso/ Olívia Byington)

sexta-feira, 11 de abril de 2008

charles3

A Saída de Charles (3)



Em função das cagadas da DS – e eu peço desculpas, data vênia, aos leitores, pelo palavreado... – amiga me pergunta qual o peso efetivo dessa tendência, no estado.


Respondo: quase nenhum.


Cerca de 80% do PT “pertencem” às tendências “PT pra Valer” e “Unidade na Luta”.


Quer dizer: são, majoritariamente, sociais-democratas ou democratas-cristãos.


Justos integrantes, nacionalmente, do chamado “Campo Majoritário”.


Os restantes 20% estão pulverizados em umas dez tendências, socialistas/comunistas.


A maior é a Ação Socialista, se não estou enganada, várias vezes maior que a DS.


Quer dizer, a DS representa, na verdade, algo como 00000,1% do universo petista no estado e, possivelmente, no Brasil.


Mas, no Pará – e só podia, mermo, ser neste Pará da Cabanagem... – a DS detém a governadora.


Porque Ana é militante da DS e não é de agora.


E o que é que isso significa?


Bom, tenho tentado explicar aos companheiros tucanos, peemedebistas e a todos os que não estão habituados a essa “coletivização” do pensamento, que isso significa muito.


Isso quer dizer, antes de mais nada, que Ana não pensa e nem “decide” per si, numa “coisa” isolada.


A decisão é coletiva; o pensamento que emerge, majoritariamente, do grupo.


Nada, enfim, tão diferente, do “coletivo” do PT.


Sei que na política tradicional, eminentemente personalista, esse tipo de entendimento e de comportamento é difícil de digerir.


Afinal, estamos habituamos a falar, bem ou mal, do prefeito, governador ou presidente fulano de tal, que faz o que bem lhe apetece, atirando “migalhas de decisão” ao grupo ao qual pertence.


Mas, essa não é prática do PT.


É certo que tem caciques. No PT pra Valer, em se tratando de Pará, o Zé Geraldo e o Ganzer; no Unidade na Luta, o Paulo Rocha e o Mário Cardoso.


Mas, o caciquismo deles não foi obtido, simplesmente, na base do “fisiologístico” toma-la-dá-cá.


No PT, é - ou era!... – preciso muito cuspe e militância para chegar a cacique...


Era preciso discutir com o “companheiro” motorista...


E ir pra rua, paramentado com chinelão, boné, camiseta e calça jeans, a defender a dona Maria e o seu José...


Porque petista que é petista tem de exibir, no currículo, gastação de cuspe e muita, muita manifestação...


E é esse pensamento democrático, coletivo, que precisamos entender.


A minha xará não decidirá rigorosamente nada por ela mesma.


Pode até gostar de alguém. Considerá-lo bacana, honesto, amigo, sincero...


Mas, na hora do pega pra capar, tem de prevalecer o pensamento do grupo; o pensamento coletivo...


Ana jamais “decidirá” nada; quem decidirá é a DS.


E, depois da DS, a baixar o “centralismo democrático”, o PT.


Tá certo? Tá errado? É bom? É mau?


Não sei... Tenho minhas críticas ao “democratismo” do PT. Profundas, como se percebe.


Mas, tenho de reconhecer que isso é, de fato, um avanço.


Não vou discutir quem vota; com quem tenho de gastar meu suado cuspezinho, que isso é para umas trocentas grades...


Mas, tenho de admitir que esse tipo de comportamento torna, ao menos, as decisões mais abrangentes (eh, eh, eh)...


Puty foi inteligente. Não procurou ganhar as massas, os aliados.


Talvez que até tenha disseminado, aqui e ali, algum veneno.


Mas, ciente desse pensar petista, investiu no grupo.


Que irá referendá-lo, afinal, como liderança, perante o partido e a coligação que sustenta o governo.


Lamento que o faça, simplesmente, com base em mera cultura livresca.


Puty é o típico representante dos quadros intelectuais das esquerdas – aqueles que leram toneladas de livros. Mas, que não têm nem noção de onde fica a Vila da Barca...


Nunca distribuíram um mero panfleto. Naquele sol escaldante, que nos faz perguntar o que é que estamos a fazer da própria vida, afinal...


Nunca viram a miséria; nunca tiveram um miserável a chorar no próprio ombro...


Para ele, a vida é mera “experiência”, coisa kafkiana – nada tem a ver com a concretude da falta que faz um bocado de pão...


Vejamos no que dará essa coisa do “todo poder” aos “santos”...


Essa coisa do todo poder ao Puty...


Mas, eu intuo que eles logo aprenderão que a política é feita, não por anjos.


Mas, simplesmente, por seres humanos...



FUUUIIIIII!!!!!!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

charles2

A Saída de Charles (2)




I


Charles Alcântara teve, recentemente, três graves problemas de pressão.

Mas, não foram tais problemas que custaram a cabeça do ex-poderoso chefe da Casa Civil do Governo do Estado.

Embora, talvez, essa seja a explicação mais simples para o Governo.

O xis da questão são, mesmo, as divergências internas da Democracia Socialista (DS), a minúscula tendência petista à qual pertence a governadora Ana Júlia Carepa.

“Há um racha na DS, uma divisão muito grande” – diz-me um histórico militante petista –“Antes, a Ana (a governadora) flutuava entre esses grupos. Mas, com a chegada ao poder, a coisa se acirrou. E hoje, o que estamos vendo é, aparentemente, até uma reconfiguração interna”.

A fonte acentua que a saída de Charles “coincide” com a definição das alianças municipais, para o próximo pleito.

Uma definição de alto impacto nas eleições de 2010.

A condução do processo é feita pela Casa Civil.

E a tarefa, agora, ficará com Cláudio Puty, uma espécie de Simão Jatene do atual governo, em termos de acumulação de poder.



II


O pomo da discórdia do mais recente round CharlesXPuty, diz-me uma fonte bem situada, foi, justamente, o próximo pleito.


“Charles é um defensor ardoroso da aliança com o PMDB. Já o Puty defende a preponderância da DS, junto com o PT”, relata.


Quer dizer: Charles entende que é preciso “acarinhar” o PMDB, nas composições municipais, até pela complexidade do jogo político interiorano.


No interior, o PMDB prevalece – o que já seria de se esperar, pelo fato de ser o maior partido local e nacional.


Já o PT não possui tanta força no interior. Mesmo assim, insiste em manter a cabeça das composições, mesmo quando não possui condições objetivas para isso.


Quem pediu a saída de Charles foi a DS, o que significa que esse pensamento – da preponderância da corrente e do PT, no Governo e nas alianças municipais – é majoritário na tendência da governadora.


Ou seja: os tucanos podem começar a soltar foguetes.


Porque se há um papel que os peemedebistas não sabem representar é o de mulher traída.


Eles, simplesmente, antecipam a traição...


III



Avessa a discussões públicas sobre as disputas internas, a DS, obviamente, nega, de pés juntos, os embates entre Charles e Puty.


Mas, gente bem situada no Governo diz que isso, de há muito, era visível. “Há um mês já havia rumores de que o Charles ia sair ou cair”, conta um secretário de Estado, que também confirma a crescente influência de Puty junto à governadora.


Para os olhos menos atentos, porém, diz-me outro integrante do Governo, nada levava a suspeitar da profundidade das disputas entre Charles e Puty, os dois homens-fortes da administração de Ana Júlia.


“De vez em quando, no Palácio, eles (Charles e Puty) tinham divergências” – relata a fonte – “E a gente via que a Ana trazia os dois, um de cada lado. E a impressão que passava era a de que eram, na verdade, complementares e não assim tão opostos”.


Em verdade, no início do governo, eram três os homens-fortes de Ana Júlia.


Além de Charles e Puty, havia Carlos Guedes, hoje no MDA, e na época o czar do Planejamento.


Guedes foi a primeira cabeça coroada a tombar, na queda-de-braço com Puty – que, dizem as más línguas, não se furta a táticas rasteiras, para obter o que quer.


Mas, antes de emplacar, no lugar de Guedes na Sepof, alguém de sua própria confiança, Puty também já conquistara outra peça importante do tabuleiro: a CCS - então Coordenadoria, hoje Secretaria de Comunicação.


Na época, Puty conseguiu defenestrar uma petista histórica – a jornalista Fátima Gonçalves, ligada a Charles. E emplacou no lugar dela o também jornalista Fábio Castro, um intelectual sem qualquer experiência do cotidiano das redações, mas de sua absoluta confiança.


Quer dizer: desde o início do Governo, Puty abocanhou a Comunicação e o Planejamento.


Agora, emplaca a si mesmo na Casa Civil, além de emplacar, na Secretaria de Governo que até então ocupava, a própria adjunta.


Como a Sefa também pertence a um aliado de Puty, ele conseguiu se transformar, efetivamente, numa espécie de Rasputin do Governo Estadual.

Ou, como brinca um petista, “o Puty, agora, é o próprio Luís XIV, com a sua antológica frase: o Estado sou eu”...


IV


Charles e Guedes estavam com Ana Júlia ainda durante a campanha.
Puty chegou depois, já após a transição e durante a montagem do governo.


Conta-se que foi apresentado à Ana Júlia pelos irmãos Marcílio e Maurílio Monteiro, ex-marido e ex-cunhado da governadora.


Os irmãos o apresentaram como um antigo militante de esquerda, que passara muito tempo na Europa.


Diz-me alguém que, a exemplo de Ana Júlia, também a origem de Puty foi o movimento estudantil.


Mas, eles não pertenciam às mesmas correntes. Puty teria integrado a Força Socialista. Ana, desde muito jovem, foi militante do Partido Revolucionário Comunista (PRC).


Boa parte da DS, aliás, tem origem no PRC; outro tanto, veio da Força (que era comandada, em Belém, pelo ex-prefeito Edmilson Rodrigues), quando essa corrente implodiu.


Em comum, DS e Força sempre tiveram o ranço autoritário da origem leninista. Ou a “leveza” do atual trotskismo, como apontam, ferinamente, os adversários do próprio PT...



V



Na bolsa de apostas, há quem acredite que a saída de Charles pode significar, também, a queda de outros integrantes do governo, talvez próximos demais a ele, para o gosto de Puty.


Seria, talvez, o caso de Edilza Fontes. Mas Edilza tem uma ligação de amizade antiga com Ana Júlia, desde os tempos do PRC e da “Caminhando”, o braço do partido no movimento estudantil, naqueles tempos bicudos da ditadura militar.


Outra que poderia ser afetada seria Suely Oliveira, ex-Força Socialista e também ligadíssima a Charles Alcântara.


Mas, nesse caso, observa um petista histórico, a situação de complicaria para a governadora, uma vez que Suely é o único quadro da DS que possui, efetivamente, base popular.


A DS, é claro, tentará descer rapidamente o pano, abafando o mais possível a queda de Charles Alcântara.


Mas, o fato, é que, assim como a saída de Guedes, a queda de Charles tende, também, a arranhar a imagem do governo.


Quem sabe, até dificultando as negociações com os partidos da base aliada, num momento crucial: a ante-sala do grande jogo de 2010.


Guedes desmontou várias das armadilhas deixadas pelos tucanos no caminho do novo governo e tinha excelente capacidade de negociação, inclusive com adversários.


Charles é igualmente macio, embora mais esperto – na verdade, mais “político”.


Aquando dos expurgos promovidos pelo antagonista, fingiu-se de morto.


Negociava com atenienses, persas e espartanos, mas, também, sabia falar grosso – vide a “vacinação” antecipada a possíveis vinculações dos petistas com Chico Ferreira...


E, paradoxalmente, também demonstrava preocupação em, ao menos, pensar os limites éticos da ação política – coisa que o pragmatismo faz a esquerda, por vezes, esquecer.


Nada disso, porém, evitou a queda de Charles, o que talvez signifique uma mudança de rumo do governo, em várias frentes.


E resta saber, apenas, qual será a próxima conquista do nosso Rasputin.

charles

A Saída de Charles





Jurei que não ia me meter nisso, devido ao meu envolvimento na campanha. Mas aí vai.

Informações seguras dão conta de que a saída de Charles Alcântara do Governo do Estado foi motivada por embates com o todo poderoso Puty.

Embora do outro lado do front, lamento a saída de Charles.

Creio que a minha xará perdeu, definitivamente, o rumo.

Charles era, sabidamente, o sujeito com melhor jogo de cintura deste governo.

E eu até deveria ficar feliz, já que estou do outro lado.

Mas, se assim fosse, não teria os amigos que tenho.

E eu considero Charles um amigo.

Bem vindo ao exílio, queridinho!

Volto ao assunto à noite, se der.

terça-feira, 8 de abril de 2008

descobridores



Os Descobridores



Vou descobrir-te o caminho das Índias,
a América Prometida,
e os mares inavegados de teu corpo...

Hei-de encontrar-te a Boa Esperança.
E reunir-te, qual um Fernão de Magalhães,
os continentes dispersos...

Naufragarei em teus vendavais,
mas ressurgirei das ilhas remotas.
E de novo tornarei a possuir-te...

Roubar-te-ei o ouro, as especiarias,
as pedras com que te adornas
no refulgir de cada dia.

Serei o teu astrolábio,
e tu, a minha bússola bendita.

Juntos, aportaremos em Vera Cruz.
E faremos... um do outro...
o Cruzeiro do Sul.


Lisboa, 1988

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Beth

Antes ele do que eu



Morreu
O nosso amor morreu
Mas cá pra nós
Antes ele do que eu

Nosso amor não resistiu
Aos assédios da traição
Lá um dia ele ruiu
Mas deixou uma lição
Que as pessoas têm seus preços
Tabelados por seus atos
Para mim você foi Judas
Pra você eu fui Pilatos
(Ele morreu)

Morreu
O nosso amor morreu
Mas cá pra nós
Antes ele do que eu

Nosso amor enfraquecido
Já não suportou a dor
Ele andava mal nutrido
De carinho e de calor
E foi definhando aos poucos
E ninguém mais agüentava
Era sol de meia-noite
Que nascia e não esquentava
(Ele morreu)

Morreu
O nosso amor morreu
Mas cá pra nós
Antes ele do que eu

Nosso amor que foi tecido
Nos teares da ilusão
Desbotou, ficou poído
Já não tem mais solução
Não há pano pro remendo
Nem há linha pro arremate
Inda mais que o destino
Nunca foi bom alfaiate
(Ele morreu)

Morreu
O nosso amor morreu
Mas cá pra nós
Antes ele do que eu


(Paulinho Soares)
(WWW.bethcarvalho.com.br)

domingo, 6 de abril de 2008

ET 3

O ET de Inhangapi(3)



(Ashtar Sheram, também vestido com uma roupa prateada, está embaixo, ao pé da escada do disco voador. Olha para um lado e para outro, como se não estivesse entendendo nada)

_Ô comadre, asserá que eu atô aficando mais doida? Esse daí não é o seu Sudão?
_Em aliança e poder, cumadizinha!... Em aliança e poder!...
_Acredo, comadre, mas o que é que o ômi atava fazendo num disco avoadô? Asserá que ele afoi abduzido?
_Por que é que você não vai lá perguntar pra ele, cumadizinha?
_Huuummm!... E avô, mermo, comadre!... E avô mermo!... Tá pensando que eu assô que nem você, é?, que afica aí se atremendo toda só por causa desse seu emprego velho na Gazeta de Arribação?
_Então, vá lá, cumadizinha!...
_Olhe que avô mermo!...E avô mermo!...(puxando a Perereca pro lado)... Comadre...O que é que você acha da gente adisputá isso no palitinho?
_Não tem palito!...Ademais, cumadizinha, a dona do blog sou eu. Logo, “mim” mandarrr e “you” obedecerrr...
_Huuummm!...Mas acomo é que você atá aficando, né, comadre? “Ulha”, “ulha” que esse negócio da Gazeta de Arribação num atá lhe afazendo bem, visse?...
_Ô cumadizinha, você vai lá ou não vai?
_Avô, comadre, avô... Mas, adepois, se o ômi arreclamá, não me avenha ademitir de novo, que eu aceito aquela proposta do Washington Post, “visse”!...(vai para o centro do palco) Ô seu Sudão, o seu Sudão, se achegue aqui!...
_Boa noite, querida! Há quanto tempo, não é isso?
_Adesdaquela festança no apê da comadre, né, seu Sudão?
_E que festa de arromba, não é isso? Confesso que desde aquela festança, certo?, tenho me sentido como se tivesse escapado da ilha de Elba e entrasse, triunfante, em Paris!...
_Num abrinque, seu Sudão? Aqué dizê que o sinhô num atem mais trauma de bastidô, é?
_Depois daquela sua terapia da rã, certo?, confesso que me tornei um homem renovado... Zerinho, zerinho, não é isso?...
_Égua, seu Sudão, num abrinque, que eu avô é apatentear essa terapia! É melhó que botox, ué!...E o sinhô asseguiu ela direitinho, é?
_Todos os dias, não é isso?, todos os dias!...Primeiro, comprei dez mil rãs e espalhei pela casa toda, certo?
_Acerto!...
_Aí, chamei um pai-de-santo, não é isso?, pra defumar as minhas rãs e espantar o mau olhado, certo?
_Acerto!...
_Também comprei um incensório, com aquela mistura de abre-caminho e comigo-ninguém-pode que você recomendou, certo?
_Acerto!...
_No início, devo confessar que a minha mulher reclamava muito: que era fumaça demais, que era muita rã..., não é isso? Imagine que ela até me deu um ultimato: ou essas rãs ou eu!...
_Num abrinque, seu Sudão!...
_E aí eu disse: Sudão, Sudão... Você já esteve em saias justas bem piores, não é isso?... Contemple, certo?, do alto de mil pirâmides, este Napoleão que existe em você!...
_E o sinhô afalava sozinho, é? E na terceira pessoa, é? E se aimaginava Napoleão, é?
_Por que, certo?, você acha isso, como direi, problemático?
_Mais ou menos, seu Sudão, mais ou menos... Mas aprossiga, ômi, aprossiga!...
_Bom, também chamei a Beijoca lá em casa, à meia-noite, certo?, e mandei bater um tambor. Aí rezei aquela prece poderosa que você recomendou...
_Ah, a oração da Acabra Preta!...E acorreu tudo nos trinques, seu Sudão?
_ Confesso, certo?, que houve um momento em que a Beijoca me olhou meio que espantada, não é isso?
_Ué, e como é que afoi isso já, seu Sudão?
_Foi quando eu acendi uma vela, peguei numa faca de ponta e comecei a girar ao redor dela, batendo os pés e dizendo assim, ó: “Com dois eu te vejo, com três eu te prendo, com caifás, satanás, ferrabraz”...
_Num abrinque, seu Sudão!...
_Mas o pior, certo?, é que ela se levantou da cadeira de rodas e todo mundo começou a gritar: Aleluia! Aleluia! Milagre! Milagre!...
_Égua, afoi mermo, seu Sudão?
_E aí, ela começou a se tremer todinha - assim, ó - como se estivesse incorporada, certo?
_Vixe Maria, mas que ababado forte!...
_E aí, ela botou a mão no meu ombro e disse: “Caboco, eu preciso de ti!”...
_Acredo, seu Sudão, e o sinhô num assentiu um frio no espinhaço, não?
_Confesso, certo?, que fiquei hirto, não é isso? Fiquei hirto!... Mas o pior ainda estava por vir, certo?...
_Égua, ômi, e o que afoi que aconteceu?
_Ela fez um longo discurso sobre a superação do extrativismo do Brejo, não é isso?, e disse que precisava da minha “parceria”, para um projeto “novo e extraordinário”, certo?
_E que aprojeto que é esse, seu Sudão?
_A inauguração de uma cadeia produtiva de rãs, não é isso?, lá pras bandas de Curralinho, num lugar chamado “a tonga da mironga do kabuletê”...
_Égua, seu Sudão, e o que afoi que o sinhô afez?
_Bem, primeiramente eu esclareci que não gostaria de ir pra tão longe, certo?... Mas disse que eu poderia mandar pra lá aquele meu parente problemático...
_Ah, o lorde Zangado!... E ela atopou, seu Sudão?
_Abriu um sorriso de orelha a orelha, não é isso?, um sorriso de orelha a orelha...
_O sinhô atá vendo, seu Sudão? A dona Beijoca, quem diria, acabou incorporando a alma de Inhangapi...
_E permanece assim até hoje, não é isso?, e permanece até hoje....Bem, mas depois de toda essa emacumbação, certo?, eu estou me preparando para abrir aquela franquia que você recomendou...
_Ah, a Ghost Delivery!...
_Isso, querida!...E até me associei ao Jujuba, que está inventando as receitas, certo? Teremos rã frita, assada, cozida, para todos os gostos, não é isso? Desde o churrasquinho e feijoada, até um imaginativo caviar...
_ Ô seu Sudão, eu afico muito assatisfeita que o sinhô ateja curado. Mas, me amate uma curiosidade básica: o que é que o sinhô atava afazendo nesse disco avoadô?
_Ah, isso?... Confesso que não faço a mínima idéia, não é isso? Eu estava conversando com a Lollobrígida...
_A sua mulher?
_Não, a minha rã de cabeceira, certo?...
_E o sinhô aconversa com as suas rãs, é? E dá nomes a elas, é?
_Todos os dias, não é isso?, e com cada uma das noventa mil, porque as dez mil se multiplicaram, certo?
_Ué, mas acomo é que o sinhô afaz pra aconversá com elas, já?
_Eu criei um novo idioma, certo?, uma espécie de esperanto do reino batráquio: o ranês. Graças a ele, converso com rãs e pererecas e até com sapo barbudo, certo?...
_E como é que é isso de ranês, já?
_É simplíssimo, certo?... Um roac significa sim; um roac, roac quer dizer não... Você quer tentar?
_O que, já?
_Falar ranês?
_ (...)
_Vamos lá, é fácil! Eu pergunto e você responde... Olhe bem para os meus olhos... Você está se sentindo bem?
_Arroac!...
_Você está com fome ou com alguma dor?
_Arroac, Arroac!...
_Viu como é fácil?
_É mermo, seu Sudão!... E eu que nunca que apensei que havia até de afalá ranês...
_Isso é porque você é uma ranzinha muito inteligente e muito bem apessoada, certo?...
_ARRROAC!...
_Aliás, devo confessar, certo?, que eu sempre achei você uma ranzinha muito interessante...
_ARRRROAC!
_Não sei se você sabe, mas, recentemente, operei a tiróide e o médico me garantiu mais dez mil anos de vida...
_ARRRRROAC! ARRRRROAC!
_E eu estou me sentindo, certo?, um sessentão turbinado, não é isso?.. Você quer que eu passe a mão no seu dorsinho, quer?
_ARRROAC! ARRROAC! ARRROAC! ARRROAC! ARRROAC!... Aqué dizê... Ô seu Sudão, o sinhô num acha ameio que esquisito esse negócio de aficá afalando com rã?
_Ora, mas não foi você mesma quem disse, certo?, que eu devia conversar com os meus fantasmas?
_Ô ômi, mas isso aera força de expressão! O que eu aquis adizê foi que o sinhô havia de aconversá consigo mermo, ué!, pra modo de aexorcizá os seus fantasmas!...
_Você sabe que era isso mesmo que eu estava dizendo pra Lollobrígida, certo?, quando apareceu esse disco voador?
_Assério, seu Sudão?...
_Eu conversava com ela sobre a incompreensão deste mundo, certo? E dizia: (o Sudão puxa uma rã de plástico do bolso e segura numa das mãos, em frente ao corpo, tipo Hamlet com a caveira; iluminação diferente; música de fundo bem melosa) “Você está vendo, Loló, como este mundo é injusto com as rãs?... Ninguém acredita na sua existência, Loló!... Ninguém acredita que dentro desse corpo de plástico também bate um coração!... Mas eu sei, Loló, o quanto você é real, na imensidão da Sudolândia!... Nesse paraíso encantado, com tantos projetos e tantos ranários e tantos pupunhais que não caberiam nem em mil planetas, Loló, nem em mil planetas!...E eu me lembro das noites mal dormidas que passei ao seu lado, Loló! Ó, Loló!... A aflição que eu senti quando você adoeceu, por causa de um PF ordinário!... Porque essa gente, Loló, essa gente é a quintessência da maldade, não é isso, Loló?... E agora, Loló, o que será de nós, com o mundo inteiro a lhe imaginar uma alma penada?... This broked my heart, Loló!.. Ó tempora, ó mores!...To be or not to be, Loló!... To be or not to be!...
_Ô seu Sudão, o sinhô atem acerteza de que num abateu com a cabeça nesse disco avoadô?
_Agora que você perguntou, certo?, devo confessar que não me lembro direito o que foi que aconteceu...
_Égua, mas como é que o sinhô afoi apará lá dentro?
_Eu estava conversando com a Lollobrígida, certo?, e de repente... zás! Uma luz vermelha me arrebatou, não é isso?
_E não lhe afizeram uns exames, aqueles trecos esquisitos, que os ETs afazem com o pessoal abduzido?
_Confesso que não me lembro, certo? Mas isso nem é tão espantoso, não é isso? Afinal, desde a mocidade que eu padeço de amnésia seletiva, certo?... Aliás, onde é que nós estamos?
_Em Inhangapi.
_Quê?
_Ô seu Sudão, a gente atá num empreendimento novo e extraordinário: um mega campo de ufoturismo da Ufoturismo Business Inhangapienses Corporation!...

(De repente, soam as sirenes. Jogo de luzes, som de tambores. Voltam os nativos gritando, freneticamente, Kong! Kong! Surge uma terceira nave no céu. E dela desce... o Star People...)


(continua)

ET 1 e 2 (republicação

O ET de Inhangapi I



_Só ‘mermo’ você, cumadizinha, só ‘mermo’ você pra me fazer acampar neste fim de mundo!...
_Ô comadre, arrelaxe, mais é!...Desde que a gente achegou que você num apara de arreclamá!...
_Mas, também!...Você já viu onde nós estamos, cumadizinha? É só mato pra tudo que é lado!...E é sapo, é osga, é grilo, é barata... E esse monte de carapanãs que fica pensando que eu sou alguma filial do Hemopa...
_Ô comadre, você aprecisa é admirááá a natureza!...Assinta o cheiro do mato!...
_É só bosta de boi!...
_Aveja a água alímpida desse lago!...
_É só malária!
_Adiga: AUUUMMMM!... E adeixe a alma abailá no céu estrelado!...
_Égua da erva boooooa, né, animal?...
_Ô comadre, você atá é muito ranzinza, mais é!...É um mau humô que ninguém agüenta! Égua da menopausa escrota essa sua!...
_Agora, a culpa é da minha menopausa, né? Eu só queria era saber onde é que eu tava com a cabeça, quando aceitei acampar com você em Inhangapi!...Em INHANGAPI!!!... E ainda por cima pra fazer esse tal de “Turismo Ufológico”!...
_Mas, comadre, é a nova moda do Brejo, ué!... Tá todo mundo aquerendo apreciá o ET de Inhangapi!...
_Mas que ET que nada, cumadizinha! Isso deve ser igual aquele ET de Varginha: uma sugestão coletiva!...
_Que nada, comadre! Diz que o negócio aqui é assério!...Diz que o bicho inté assolta fogo pela venta!...
_Jura? Então, deve de ser algum clone da mula-sem-cabeça, né mermo, cumadizinha!...
_Que nada, comadre! Diz que o bicho é feio..., feio..., feio... que nem o cão achupando manga!...Atem uns zolhões pretos... Uma careca horrível!...Um jeito, mermo...mermo...de bode véio...E ainda se abalança todo, comadre!... E aí ele assegura o sujeito com uns brações de ferro, apega numa seringa e tum!...atira o sangue do coitado que acruzô com ele!... E atem mais, comadre!...
_Égua, mais?!!!...
_Diz que quando o sujeito acorda, adescobre que afoi abduzido!...
_Égua, sério? E pra onde “alevam” o pobre? “Deve de ser” pra baixa da égua, né, cumadizinha?...
_Que nada, comadre! Diz que é pra adentro duma nave enooooorme! Tudo branca e cheia de luz!... E aí afazem um montão de experiência científica com o caboco! Amedem pressão, glicemia e inté aquele tal de triglicerídeos! Examinam fezes, urina, ascutam o peito e afazem o sujeito arrepeti: 33, 33, 33...
_Égua, então isso não é uma abdução!...É um check-up intergaláctico!...
_É que o seu ET, comadre, diz que atem mania de doença!... Diz que um sujeito que afoi abduzido adescobriu que atinha tuberculose, hanseníase, sarampo, catapora, pereba, malária, papeira, tosse gogada e inté bicho de pé!...
_Mas, cumadizinha, tá certo que você é bem informada!... Mas, eu não tô é entendendo como é que você sabe de tudo isso sobre o ET de Inhangapi!...
_Ué, comadre, mas se tá tudo aqui neste folheto da Ufoturismo Empreendimentos Inhangapienses, ó!...
_Égua, e tem essa empresa?
_Pois num atem, comadre? É inté do Barão com o seu Inri e o lorde Balloon...
_Égua, que eu devia ter desconfiado!...Égua, que eu sou é muito burra!...
_Ô comadre, mas do que é que você atá arreclamando? Esse pacotão de ufoturismo saiu inté barato, por causa da abaixa estação!...
_E quanto é que ficou a porcaria desse pacote, animal?
_Só dez mil bufunfas, ó xente!...
_Dez mil!!!...Mas você enlouqueceu, cumadizinha? De onde é que eu vou tirar tanta bufunfa?
_Dos anúncios do seu blog, ué!!!
_Mas, o meu blog não tem anúncio, animal!
_ Mas, então, afaça um rolê com a Gazeta de Arribação, ué!
_Égua, eu não acredito que você me fez gastar dez mil bufunfas com esse negócio de doido!...
_Mas, comadre, a gente inté aganhou um maravilhoso kit ufoturístico!...
_Quê?
_Pois, não é, comadre! Como eu apaguei à vista – é bem verdade que com acinco cheques pré-datados seus... – a gente inté aganhou esse lindo kit “O ET e Eu”. Apegue lá, comadre!...Atem essas duas varas de pescá... Esses dois violões – inté bacanas, né, comadre? – e esses negócio esquisito que eu num assei o que é...
_É um vibrador, sua anta!...
_Égua, assério, comadre? E pra que é que asserve?
_(...)
_Ah, e ainda atem essa pomadinha aqui, ó!...
_É KY, animal!...
_Égua, comadre, como você é instruída!...
_Boa noite, minhas senhorrras!
_Ô seu Inri, ainda bem que o sinhô achegou!...Eu inté atava amostrando pra comadre esse maravilhoso kit ufológico “O ET e Eu”!
_A senhorrra gostarrr, dona Perrrerrreca? Serrr idéia do querrrido lorrrde Balloon! Ele pensarrr numa coisa nova e extrrraorrrdinárrria parrra garrrantirrr satisfaçon da frrreguesia!...
_Mas eu não estou é entendendo, seu Inri, como é que funciona esse negócio de turismo ufológico...
_Ah, mas isso, como dirrria o nosso querrrido Barrron, é muito simples, minha senhorrra!...O que é que a senhorrra verrr aqui?
_Mato e bicho!...
_Orrra, vamos, dona Perrrerrreca, como dirrria o nosso querrrido Barrron, liberrrtarrr a imaginaçon! Inhangapi serrr um lugarrr fantástico! Aqui, tudo acontecerrr!...E foi aí que pensarrrmos nesse emprrreendimento novo e extrrraorrrdinárrrio do ufoturrrismo!...
_Quer dizer, então, que não tem nenhum ET de Inhangapi?
_Mas é clarrro que terrr, minha senhorrra! A senhorrra acharrr que eu, o Barrron e o lorrrde Balloon serrrmos capazes de enganarrr as pessoas?
_Não, seu Inri!... É claro que eu jamais pensaria algo assim de uma “trinca” desse quilate, não é ‘mermo’?
_Então, rrrelaxarrr, dona Perrrerrreca, que logo, logo a senhorrra terrr a experrriência mais fantástica de çon vida!...

(De repente, acendem um holofote e aparece um grande disco voador, pouco acima do chão. Batuque ritmado de tambores. Surgem pessoas vestidas de branco gritando, freneticamente: Kong, Kong, Kong! A nave pousa. E dela desce...O ET de Inhangapi!)



(Continua)





O ET de Inhangapi (2)


(Os tambores e gritos cessam. O ET, com um uniforme prateado, embaixo, junto à escada do disco voador, olha na direção da Perereca e da Correspondente e aponta para o céu).

_ET...ET...Phone...Home...Hoooome...
_Mas que diabo é isso, já, cumadizinha?
_Ô comadre, você num tá vendo? É o seu ET de Inhangapi, ué!
_Mas que ET o quê, animal!... Esse daí é o Barão!...
_Mas aooonde, comadre!...Pois se inté tá escrito aqui, ó, nesse folheto da Ufoturismo “Business” Inhangapienses!...Esse daí é o seu ET de Inhangapi!...
_Égua, meu Deus do céu, mas o que foi que eu fiz na outra encarnação?...
_Ô comadre, você tá é aficando “deveras” melodramática! Daqui a pouco vai inté aescrevê novela: “A Bananada”. “Ó, Pafúncio Romeu por que me atrituraste o coração?”, “Mas, Felisberta Julieta, eu só te adei esse liquidificadô!” “Pois então, Pafúncio Romeu, por que num me adeste um processador? Agora, se eu abatê cebola, num aposso fazê bananada, porque avai ficá tudo com gosto de tempero! Ó, Pafúncio Romeu, que asserá de mim? Asserá a cebola? Asserá A Bananada?”...
_Ô cumadizinha, você tem certeza de que fez aquela sessão básica de camisa de força antes de a gente vir pra cá?
_Mas é claro, comadre! E até me atremi todinha que nem o Barão, ó, ó!...
_Pois, então, cumadizinha, você não vê logo que isso daí é só o Barão?
_Aescute, aqui, comadre, que eu num avô mais adiscuti com você. Avô é achamá o guia ufoturístico da “Business” Inhangapienses. Ô seu Inri, se achegue aqui!...
_Chamarrr, querrrida corrrespondente?
_Ô seu Inri, apare de me cuspir, mais é, e adiga aqui pra comadre quem é esse daí que adesceu desse disco avoadô!
_Esse, minha senhorrra, é aquele a quem o Senhorrr da Balloonsferrra chamarrr “O ET de Inhangapi”!

(As luzes piscam. Som de trovões)

_Te mete com doido, te mete com doido! Como já dizia a minha mãe, vais acabar no choque elétrico e o doido, todo serelepe, na porta do hospício, rindo da tua cara!...
_Ô comadre, o seu problema é que você anda avendo chifre em cabeça de macaco!... Pois eu avô aprová que você atá errada. Ô seu ET, se achegue aqui!

(O ET se aproxima de ambas)

_Você atá vendo, comadre, esses zoiões do tipo “A volta dos mortos-vivos”?... Você atá vendo esse carecão tremeluzente?... Você atá vendo essa forma na qual a natureza apareceu cismá?...
_Tá poética, né, cumadizinha?
_Tô aprendendo com você, comadre! Tô aprendendo com você...Agora, arrepare só nessa barbicha de bode véio...Dá pra fazê “bé”, seu ET?
_Béééééééééé!
_E agora me adiga, comadre: que aparecença que apode havê entre essa criatura estropiada e o seu Barão?
_(...)
_Errr...Acreditarrr, querrrida corrrespondente, que a dona Perrrerrreca prrrecisarrr de uma prrrova, como dizerrr, mais substanciarrr, de que esse é o purrro e genuíno ET de Inhangapi!...
_E o que é que o sinhô assugere, seu Inri?
_Pegarrr o seu marrravilhoso kit ufoturrrístico!...
_Tá aqui, ó, seu Inri!
_Agorrra, oferrrecerrr o vibrrradorrr parrra ele!...
_Atome aqui, seu ET!...

(Quando os “cabocos” que gritaram “Kong, Kong” vêem a Correspondente oferecer o vibrador ao ET, gritam e fogem desesperados. A Correspondente, com o vibrador na mão, olha, interrogativamente, para a platéia...).

_Errr! Acharrr melhorrr mudarrr a aborrrdagem. Darrr o violon parrra ele!
_Apegue a viola, ó, seu ET!
_(O ET pega o violão, como se não soubesse o que fazer com ele. Põe nos ouvidos, nos ombros, na cabeça. E diz, ao final) ET...ET...Phone...Home...Hoooome...
_Tá vendo, comadre? Eu num adisse que esse daí era o seu ET de Inhangapi? Adesde quando, já, que o seu Barão não ia assabê o que fazê com uma viola?
_(...)
_Acreditarrr, querrrida corrrespondente, que a dona Perrrerrreca necessitarrr de uma prrrova maiorrr da...da...cof, cof, cof
_O homem engasgou!
_Mas aooonde, comadre!
_hã, hã...Pegarrr a varrra de pescarrr...cof, cof, cof...E oferrrecerrr...cof, cof, cof... parrra ele...cof, cof, cof...
_O homem vai morrer engasgado...
_Ô comadre, tem horas que você é uma insuportável, mais é! Atome aqui a vara, ó, seu ET...

(O ET pega a vara e não resiste: joga em direção ao lago. Mas, o anzol volta e engata na pálpebra esquerda dele. O ET começa a girar e a gritar, que nem o Smeagol)

_Ai, ai, ai! ET... Phone...ui, ui, ui...Home! ai, ai, ai...

(O Inri vai na direção dele e o leva embora)

_Vixe Maria, comadre, que o seu ET apescô o próprio zoião! Tadinho!... Nunca adeve de atê visto uma vara, ué!...
_Ô cumadizinha, você não vê logo que isso é igualzinho ao que aconteceu com o Barão?
_Huuum, mas adesde quando, já?...
_Ô cumadizinha, você não se lembra daquela vez que o Barão foi dar uma de pescador e acabou pescando o próprio olho?
_Mas aooonde, comadre! Você num avê logo que isso é história de apescadô?
_Mas quando, cumadizinha! Saiu até na Gazeta de Arribação...O homem quase que fica cego!...
_Ô comadre, mas eu me admiro é de você!... Num atá vendo logo que isso é intriga dessa oposição farofeira? Adesde quando, já, que o seu Barão, um pescado agabaritado, ia apescá o próprio zoião? Pois se o omi é inté campeão de pesca de Inhangapi!...
_Não brinque, cumadizinha!...
_Pois num é, comadre? Se inté saiu na Gazeta de Arribação! Atinha inté foto do Duzinho entregando um troféu pra ele!...
(puxando a Perereca pro lado)
_É bem verdade, comadre, que, naquela época, acomentaram que o Duzinho era o patrocinadô e o juiz do torneio e que o Barão era o único candidato... Mas eu inté nem lhe adisse isso, porque, assabe como é, essa oposição só aqué um pezinho pra afazê um carnaval!...

(Voltam o Inri e o ET, acompanhados do lorde Tirésias. O ET está com os dois olhos cobertos por grandes tapa-olhos. Tem uma bengala numa das mãos, claudica e é amparado pelo Inri e pelo Tirésias).

_Tão vendo, seu ET? A gente não dissemos que não iam doerem nada?
_ET...ET...ET...
_Ué, seu Tirésias, mas o seu ET num atinha amachucado só um zoião?
_Ah, minhas querida, é que a gente tivemos de operarem os dois, pra modo de ficarem tudus zigual.
_Num abrinque, seu Tirésias!...
_E num forem, querida, e num forem? Quando a gente peguemos nuns zalicate, pra modo de arrequemos os zanzol, os zoutro zóios dele cumeçou a crescerem, a crescerem... Aí a gente falemos pros lorde Tirésias: isso daí, caboco, só pode ser aquelas tar de pupilha delatada. Aí a gente peguemos nos zalicate e arrenquemos as bicha!... Ficarem tudu branquinho, branquinho...
_Aqué dizê que o sinhô arrancô as pupilas do seu Barão?...Aqué dizê, do seu ET?
_Asasque, querida?
_As pupilas. Aquelas bolas pretas que aficavam no meio dos zoiões dele...
_Ah, as pupilha delatada!...Pois arranquemos, querida, arranquemos. És umas tecnica que os lorde Tirésias aprendemos nas farcudade do Brejo. Agora, as pupilha vai crescerem tudinho zigual!...
_Pupilas não crescem de novo...
_E quem serem as sinhora pra dizerem isso? As sinhora entenderem de osculhismo, por encaso?
_Ô seu Tirésias, num se avexe, num se avexe, que essa é a comadre, a dona do blog A Perereca da Vizinha!
_A gente sabemos muito bem quem erem essas tar de Perereca e esses tar de bunga! A gente lemos, a gente lemos, as sinhora num acreditarem, mas a gente lemos! A gente aprendemos o bê a cá!...
_Ô seu Tirésias, se acalme mais é, que a comadre num afalô por mal, né, comadre? Ela só tá achando que as pupilas num acrescem assim!...
_Mais erem esse os pobrema, querida! Essas suas zamiga ficarem pensando que saberem tudo! Elas estudarem osculhismo, por acaso? Elas saberem os filhosofismo dos zóio? Os lordes Tirésias, não! Os lorde Tirésias atenham uns diproma, ó, que a gente até carreguemos aqui, ó, ó! Enquanto que essas sinhora, que apensarem que saberem tudo, serem umas...umas...umas adipromática!...
_O senhor me permitiria olhar esse seu diploma?
_Erem craro! Tás aqui, ó!...
_Ué, que diabo é isso, já, de “deis” em “apingação de corilho”?
_Intonces, erem umas matéria que a gente tenhamos em osculhismo... A gente aprendemos os filhosofismo dos zóio, pra modo de acolocarem os corilho...
_Égua, e o que é isso, já, de “arrecolhe-cimento de zoiões travetas e vesgetas”?
_Intonces, erem outras matéria!...Erem subi aqueles zóio que vai pelas lateral esquerda e vai pelas lateral direita e que azagueiam, azagueiam e só aparam nas trave...
_E esse negócio daqui de “arreceitamento oculhístico”?
_Pois essa, dona, erem as matéria mais apobremática dos osculhismo. A gente tenhamos de adivinharem as necessidade dos caboco. Se o sujeito erem grandão (daqueles parrudão, as sinhora saberem como erem), a gente ponhamos três grão. Mas, quando erem uns caboco pequeno, bastarem um grão, meio grão.
_Você tá vendo, comadre, por que é que o seu Tirésias é o maior oculista do Brejo?
_Ô cumadizinha, mas você não tá vendo logo que esse diploma é falsificado?
_Mas aooonde, comadre! Mas se inté adizem que o ômi operô a Dona Justiça!...
_A Justiça é cega, animal!
_E eu bem que aestranhei aquelas vendas nos zoiões dela...

(Súbito, ouvem-se sirenes. As luzes piscam. Surge outra nave no céu. E dela desce...Ashtar Sheram, o comandante em chefe das Forças Intergalácticas)

(Continua)