sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Sobre os desertos

A Perereca Machucada...



A Perereca repisa a música abaixo, enquanto prepara a edição do final de semana, a primeira de 2008.

Decidi que não temo os desertos, as tempestades: que venham os desertos, pois! E não será a primeira vez, não é mermo?...

Quem se atemoriza diante disso são os capachos. Os merdas. Os incompetentes que só sabem dizer, melosamente: “sim, senhor”.

Os que até abaixam a voz, e o rabo, diante do dono da voz.

Acho engraçadas as pessoas que se fazem passar por corajosas diante de quem está por baixo.

Mas, que se mostram tão covardes – e até falam fino – diante dos patrões.

E que, por isso mermo, não conseguem resolver uma demanda de R$ 300,00 numa redação.

Por mais dinheiro que entre.

Porque são merda boiando. E só!

Nunca tive esse perfil. E creio que, aos 47 anos, está bem difícil de ter.

O eventual poder que tive – e todos os que andamos na política sabemos da efemeridade disso – foi baseado, tão somente, na minha competência, no meu valor profissional.

Lembro de uma vez que disse isso a um motorista da Assembléia Legislativa. E ele, descrente, ficou meio que ofendido comigo...

Tenho minhas convicções ideológicas, das quais não abro mão. Mas, jamais me utilizei delas para obter trabalho.

Poderia tê-lo feito, inúmeras vezes. Não o fiz e nem me arrependo.

Não preciso me acachapar. E de todos os assessorados que tive, o único com quem não me entendo é o Jatene.

Todos os demais – Mário Cardoso, Ademir Andrade, Hildegardo, Humberto, Eslon, Romero, Valéria – me respeitam.

Daí ter concluído que o problema é do Jatene – não meu.

Com nenhum dos meus assessorados – e peço o testemunho deles – tive qualquer espécie de condescendência.

Pelo contrário: disse a eles o que ninguém mais tinha coragem de dizer.

Daí o respeito mútuo.

Em jornal, isso é mais complicado.

Em jornais, todo mundo, por mais acachapado que seja, se reúne no corporativismo.

Não tenho registro profissional. Sou jornalista das boas. Talvez a última representante, como me disse alguém, daqueles tempos em que fazia jornalismo quem tinha capacidade para isso.

Porque jornalismo é mais que um diploma: é inteligência, cultura ampla, sabedoria, capacidade de ir além do interesse e do dizer do entrevistado.

É a capacidade de embaralhar, educadamente, a mesa posta do banquete...

Nada tem a ver com as luzes pelas quais as pessoas procuram essa profissão.

Jornalista que é jornalista é uma sombra. Quem reluz é a informação.

Fiz por essa profissão mais que muitos diplomáticos de merda.

Os repórteres que se contentam com as respostas de merda. E os editores que consideram a notícia um apêndice da publicidade.

Fui jornalista até o tutano. Talvez, até faça o curso, para acabar com essa bagunça.

Talvez, tivesse de ter tido menos preocupações éticas: talvez, obtivesse o registro como diagramadora, fotógrafa, sei lá!...

Jamais me passou pela cabeça ficar na mão de alguém. Não quero dever favores a quem quer que seja.

Isso é o mínimo que se espera de um repórter.

Mas, que tudo isso dá uma tristeza danada, lá isso dá! ...

Graças à coragem do Lula de vetar aquele projeto indecente da Fenaj, até o final de semana!...

Com vocês, a musiquinha bacana que levo para o deserto que me espera...


A Voz do Dono e o Dono da Voz


Até quem sabe a voz do dono
Gostava do dono da voz
Casal igual a nós, de entrega e de abandono
De guerra e paz, contras e prós
Fizeram bodas de ace......tato de fato
Assim como os nossos avós
O dono prensa a voz, a voz resulta um prato
Que gira para todos nós
O dono andava com outras doses
A voz era de um dono só
Deus deu ao dono os dentes
Deus deu ao dono as nozes
Às vozes Deus só deu seu dó
Porém a voz ficou cansada após
Cem anos fazendo a santa
Sonhou se desatar de tantos nós
Nas cordas de outra garganta
A louca escorregava nos lençóis
Chegou a sonhar amantes
E, rouca, regalar os seus bemóis
Em troca de alguns brilhantes
Enfim a voz firmou contrato
E foi morar com novo algoz
Queria se prensar, queria ser um prato
Girar e se esquecer, veloz
Foi revelada na assembléia-atéia
Aquela situação atroz
A voz foi infiel, trocando de traquéia
E o dono foi perdendo a voz
E o dono foi perdendo a linha que tinha
E foi perdendo a luz e além
E disse: Minha voz, se vós não sereis minha
Vós não sereis de mais ninguém

(Chico Buarque)

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