sábado, 16 de dezembro de 2006

In Memoriam

Luto de sanfoneiro



Diz que Gonzagão e Sivuca se encontraram no Céu. Rolou o maior arrasta-pé. Foi anjo dançando xote, baião. Flocos de nuvens, se alevantando ao infinito. Até São Pedro resfolegou no cangote de Santa Maria Carolina. E Jesus, cansado dessa cruz que é o mundo, gritou à sanfona e sanfoneiro: Fiat Forrus!

Aliás, diz que nunca se viu melhor forrozeiro que Jesus. Vai de par em par, dum lado a outro do salão. Ta raquítico. Não de sofrer, mas de dançar...

Bandeira largou de mão a sua Pasárgada, que era, a bem dizer, uma mosca morta. Juntou-se a Pessoa e foram baforar na tabacaria do beco. Aí compraram um retrato de Drumond. Que o retirara da parede, pra modo de pendurar uma sanfona. Oswald disse que era um gesto antropofágico. O Sardinha reclamou: quem entende de antropofagia sou eu, ó pá!...

Deram que faltava mulher. Aí chamaram a Tarsila, a Pagu, a Berta, a Clarice, a Clara, que chegou toda vestida de maré cheia... “Mulher não paga, mulher não paga!”, gritava Santo Agostinho. Até a Marília apareceu. Mesmo que suspirosa. E sem gostar de tais festanças.

Nós, cá embaixo, sofrendo à beça. Eles, lá em riba, se divertindo.
Vamos dançar! Luto de sanfoneiro é forró... E égua do forró arretado! Alevanta, defunto!!!!!!!!!!!!


Feira de Mangaio


Fumo de rolo arreio de cangalha
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Bolo de milho, broa e cocada
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pé de moleque, alecrim, canela
Moleque sai daqui me deixa trabalhar
E Zé saiu correndo pra feira de pássaros
E foi pássaro voando em todo lugar

Tinha uma vendinha no canto da rua
Onde o mangaieiro ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assado
E olhar pra Maria do Joá

Tinha uma vendinha no canto da rua
Onde o mangaiero ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assado
E olhar pra Maria do Joá

Cabresto de cavalo e rabichola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Farinha rapadura e graviola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pavio de candeeiro panela de barro
Menino vou me embora tenho que voltar
Xaxar o meu roçado que nem boi de carro
Alpargata de arrasto não quer me levar

Porque tem um sanfoneiro no canto da rua
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem o Zefa de purcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar

Mas é que tem um sanfoneiro no canto da rua
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem o Zefa de purcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar

(Sivuca/Glorinha Gadelha)

Nenhum comentário: